terça-feira, 9 de outubro de 2018

PRECE


PRECE


Águas do céu, descei ao deserto
que um fio desperte para a vida
inundai de fragor o silêncio vazio da areia
fazei fértil o gesto ermo

Dai voz à mudez das pedras sem lábios
entrai nos corpos semeados por dentro de frágil futuro

Abri caminho por entre esperanças derrubadas
estendei-vos de movimento nas fadigas da secura

Matai a sede. Urgente a tempestade, a bonança não tarda


                                           © Aurora Simões de Matos


segunda-feira, 17 de setembro de 2018

SESSÃO DE AUTÓGRAFOS NA FEIRA DO LIVRO DO PORTO

PRÓXIMO SÁBADO, 22 de Setembro
    PALÁCIO DE CRISTAL, PAVILHÃO 74 
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Com pré-lançamento da obra " A vida é um Aforismo", no pavilhão 74.

Venha passar comigo um pedacinho da sua tarde. Às 15 horas, espero o seu abraço.OBRIGADA!

                                  Aurora Simões de Matos


quarta-feira, 12 de setembro de 2018

SOLIDÃO

SOLIDÃO





Há vibrações da alma que inventam sobressaltos na partilha dos dias.

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A linguagem do afecto é sempre um momento erótico.

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Quando termina uma relação amorosa, a última verdade a morrer é a fantasia.

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                                                                  Aurora Simões de Matos


terça-feira, 14 de agosto de 2018

A MINHA CONVERSA COM BRITES DE ALMEIDA

PADEIRA DE ALJUBARROTA

UMA ESTÁTUA INGÉNUA COM ARES DE INCRÉDULA



MUDAM-SE  OS  TEMPOS,  MUDAM-SE  AS  VONTADES


TARDE DE AGOSTO EM ALJUBARROTA, numa esforçada conversa com a famosa Padeira Brites de Almeida, tentando convencê-la a emprestar-me a eficiente PÁ, com que terá, de uma vez só, dado cabo de sete deles.
Cumplicidades entre Mulheres de Barba Rija!!!
Só que, apesar do meu poder de argumentação (que pelos vistos já conheceu melhores dias), a Padeira olhou-me de lado e, com aquela cara de lata, fez de contas que as estátuas não ouvem!!!

É que, por certo, ela nunca entenderá que, passados pouco mais de seis séculos sobre o heróico episódio que a tornou lendária, muitos dos países desta velha Europa tenham perdido o Orgulho pela sua INDEPENDÊNCIA... e que alguns já tenham desistido de por ela lutar...
E nunca entenderá também que a mesma velha Europa dos grandes valores tenha perdido a GENEROSA SOLIDARIEDADE entre os Povos, para se alhear de uma das maiores tragédias humanitárias da História do Mundo.
Porque fechar as fronteiras a quem foge da fome, da guerra e da morte, erguendo muros ou abrindo barquitos de borracha para uma morte quase certa no Mediterrâneo, além de cruel, arrogante e sádico, é um triste testemunho dos tempos negros da pior mostra do ser humano.

POBRE VELHA EUROPA, que se tornou hipócrita!!! 

POBRE PADEIRA DE ALJUBARROTA, que se tornou ingénua!!! 

POBRE DE MIM, que me tornei implacável!!!

NOTA:
Um destes dias, regressarei, em busca da PÁ. Porque as negociações não podem parar, perante alguém que, por incredulidade, virou cara de lata!

                                                                                 Aurora Simões de Matos



                                                                                                Aurora Simões de Matos


segunda-feira, 6 de agosto de 2018

OS HERÓICOS RESISTENTES DO PORTUGAL PROFUNDO


TEXTO de Aurora Simões de Matos

IMAGENS de Portugal Rural by Armando Jorge







OS  RESISTENTES


Não me surpreende a paragem do viajante, de binóculos, esmagado ao gigantismo de uma paisagem dominadora.
Não me surpreende o fervilhar da gente que, nestes dias de férias estivais, coalha os caminhos, as romarias, as feiras, o mercado da vila, os pequenos e os grandes restaurantes à beira das estradas, as partes de rios e ribeiras mais convidativas a uma boa tarde de sol e de lazer.

Não me surpreende a dimensão do amor subjacente aos gestos, atitudes e conceitos unificadores do sentimento colectivo que transforma a vivência social no pulsar de uma cultura que, atravessando todos os sobressaltos, segue o curso que parece dar sentido ao tempo histórico, em permanente interacção entre a fé, a razão e o sonho.




Desde há décadas que o destino de muitos dos pastores e agricultores das extensas encostas do Portugal Profundo  deixou de acompanhar o movimento das estrelas e as fases da lua e de esperar pela chegada cíclica das estações do ano.


A estrutura básica de uma economia matricial de subsistência deixou há muito tempo de satisfazer as suas necessidades e as suas mais que legítimas ambições.

Não me surpreende, pois, a partida dos que, desde há cerca de cem anos até aos nossos dias, num crescendo quase fatal, buscam noutras paragens o amenizar de uma vida quase sempre confrontada com a inevitabilidade de outras dores e de outros suores.

O que me surpreende é o orgulho e a tenacidade dos resistentes, o estoicismo dos que ficaram que, colmatando fracturas bem a descoberto em dolorosos abandonos e em aparatos mais ou menos desarticulados, continuam a perseguir valores ancestrais e conceitos de património, assumidos ao rigor máximo da herança que receberam e que querem, a todo o custo, transmitir incólume.

Num testemunho de coerência verdadeiramente heróica, a força desta gente continua a ser o alicerce singular de uma cultura fiel às suas origens. (…)



                                        ©      Aurora Simões de Matos


domingo, 29 de julho de 2018

" O Drone e a Cabritinha "- A minha história maluca!!!




            FÉRIAS E AVENTURAS
  
A FICÇÃO DE MÃO DADA COM A BRINCADEIRA
                    ******
"O DRONE E A CABRITINHA" ---- 
leia a história que as fotos documentam!

Desde que se ouve falar em " drones " que sinto uma certa implicância por esses aparelhómetros aparentemente (des)complicados na sua engenharia, aparentemente discretos na sua performance e aparentemente intrusos nos espaços alheios. "Drones" que, segundo o ângulo de visão em que se posicionam os entendidos, podem ser de uma grande utilidade, como de um grande perigo para a humanidade. Assim, mais ou menos... nem peixe, nem carne.
Quando cheguei à minha aldeia de xisto, para uns dias de prazer tranquilo, olhando a profusão de verde intenso dos seus pinheirais de luxo, estremeci, perante a hipótese de alguma mão criminosa se intrometer no destino daquela enorme mancha de saúde física e espiritual. Mão que poderia vir sabe-se lá de onde! Da terra (!), da água (!)... do ar (!)...
A preocupação virou obsessão. E um dia, no terraço superior da casa onde nasci, ouvindo um ténue... muito ténue chocalhar de guizos, lembrei-me dos famigerados "drones". E da hipótese de incêndio que alastra em Portugal, parecendo praga ou bruxedo, sabe-se lá!!!... 🙄😏
Vai daí, mulher sem medos, procurei armas e dispus-me à luta. Lembrei-me que por bem menos, já vira na minha aldeia matar-se à sacholada quem tentasse arredar as águas de rega que não lhe pertencessem. Armei-me de foice, gadanha, ancinho, enxada e forquilha. E, perscrutando os ares em tom ameaçador, dispus-me a dar cabo do suposto violador de espaços privados. Com as armas letais que consegui. Que são, como referi, as que se usam na minha terra!
Minha irmã Mindinha, ao sentir tamanha azáfama no piso de cima da casa, indagou sobre o motivo de tamanho aparato.
Contei-lhe das minhas desconfianças, perante o ténue... muito ténue chocalhar de guizos.
Então ela, chamando-me à razão, gargalhou a bom gargalhar, fazendo-me olhar para o caminho:
- Olha o chocalhar de guizos, sua doida!!!
Mudando de direcção a minha atenção, de cima para baixo, reparei que, cabriolando contente, um pequenino rebanho regressava do pasto. E uma cabritinha, a mais ladina, de guizo ao pescoço, de soslaio sorriu-me nas barbas, como que a perguntar:
O que será um "drone"???!!

                                               



                                                             Aurora Simões de Matos











                                                              Aurora Simões de Matos




Férias em Meã- sopé sul do Montemuro




terça-feira, 26 de junho de 2018

NOVO LIVRO COM NOVE CAPÍTULOS - Autora: Aurora Simões de Matos




             A VIDA É UM AFORISMO


PREFÁCIO DE MÓNICA FERREIRA LIMA

 ----  CAPA E ILUSTRAÇÕES DE JOÃO TIMANE -----
Editora - Edições Esgotadas  


       A VIDA É UM AFORISMO
                                                   
                  IV CAPÍTULO





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                                              IRONIAS



« A ironia talvez fosse necessária à grandeza da alma.»

                                                                           Friedrich Nietzsche



« É muito mais difícil matar um fantasma do que matar uma realidade.»

                                                                                        Virgínia Woolf
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desgraça dos pobres e a mesquinhez dos ricos não o são por fatalidade do conflito; são-no por inoperância da sua indignação.

. Andar sempre cheio de razão é ter perdido o estilo próprio da perfeição.

. Nem todas as idades ficam entre o nascimento e a morte; a vida é muito mais que o tempo de viver.

. A oportunidade é uma provocação; tanto quanto a audácia é uma afronta e o erro é uma injúria.

. O medo é a forma bastarda da impotência.

. Somos feitos para nos perseguirmos, em busca de um qualquer sentimento que nos conforte, ou destrua.

. Na vulgaridade do quotidiano, encontramos muitas vezes pequenas vitórias que abrem caminho à estética triunfal da eternidade.

A primeira desgraça é ser-se desamado; a última é ser-se ciumento.

.A idolatria tem uma ética muito própria: a submissão irresgatável à propriedade originária do impulso romântico, que se expandiu como instrumento de fé.

. O ladrão deixa a toda a família uma herança de perdição e descrença: a vergonha, sem hipótese de recurso.

. Os demónios dos outros são quase sempre inspirados nos nossos.

. O que não existe é tão complexo como a vida que nos escorre entre os dedos, em forma de tempo.

. Os segredos de um rio são muito para além de qualquer margem.

. A extravagância é a linguagem dos firmes, como a sensatez é a linguagem dos tímidos.

. O que fica depois da tragédia é a humilhação que resulta da impotência.

. Na luta contra o tempo, o homem nunca terá qualquer hipótese de triunfo; a morte é a grande glória.

. Há sempre o rumor de passos, que fica para lá da partida; escutar  seu eco, um gesto de encontro.

. Mais do que  manifestação de força, o alarido social é grito de descrença.

. Há dias, em que até o poeta mais sisudo sorri à passagem das cobras.

. A arrogância é a face mais visível do fracasso.

. A cumplicidade é um girassol que se vai desfolhando, em pétalas de puras inocências ou duras consequências.

. Há palavras que se escondem entre dentes, para não terem que acabar cuspidas.

. Qualquer sofreguidão pode levar a engasgamentos fatais.

.Quando se tropeça num capricho, é fácil o tombo de múltiplas quedas.

. Há lonjuras onde não cabe qualquer distância.

. A poesia é um rendilhado sempre imperfeito.

. Do salto arriscado pode acontecer uma queda no mar; ou um voo na maresia.

. Há noites, em que nem mesmo a brandura do céu consegue desamarrar sinais de paz.

. Eterno é o farol aceso, contra os pássaros em tímidos achegos ou largas asas de voo.

. Na lareira crepita ainda o lume que reacendi, com recordações abrigadas na frigidez do tempo.

. No estreito chão da intimidade, vamos aprendendo a segurança dos largos passos da vida.

. Há poentes de gelo em céus cor de fogo, e poentes quentes no frio das madrugadas.

. Nascemos para ser barco no mar alto, e o mar é imenso de atravessar, e os nossos destinos são os destinos dos outros!

. Grande crueldade é ser a natureza do grito, a quem sufocaram a garganta e o sentido da palavra celebrada.

. A surpresa que fere o ouvido pode inaugurar silêncios; ou tumultos.

. O frio desiludido repete-se, de cada vez que o poema nos foge, antes que o sorvamos até ao último trago.

. Há quem não saiba que o mundo se descobre pelo toque.

. Abrir o pensamento não é a mesma coisa que abrir o coração: são diferentes as chaves que os encerram.

. A vida é um estorvo para os afetos.

. Quando o amor não está confirmado, pode esvair-se em linguagens banais.

. Quando se desfaz um laço familiar, todos se transformam em vítimas da memória.

. A cordialidade é  dever simpático, quando se tem a barriga cheia.

. O arrependimento muitas vezes decide melhor do que a atitude.

. As melhores histórias são as da infância, que foram vividas em tempo de dúvida.




Autora - Aurora Simões de Matos
Para o livro: A VIDA É UM AFORISMO