quinta-feira, 2 de outubro de 2014

.BIOGRAFIA ROMANCEADA DE MARIA DO CÉU TRINDADE ... " A SOBREVIVENTE " --- LANÇAMENTO DO LIVRO EM CASTRO DAIRE

CENTRO MUNICIPAL DE CULTURA


"A  SOBREVIVENTE "
DIREITOS E DEVERES DA MULHER RURAL 
DO SÉCULO XX

13/ 09/ 2014



 « No entendimento de que contar esta história de vida só faria sentido, se a enquadrássemos num contexto real, houve que, ainda assim, no desenrolar da narrativa, encontrar alguma ficção que lhe servisse de suporte.

Mas não será precisamente essa ficção que, na verosimilhança da sua autenticidade, ao importar como cenário que em nada altera o essencial da biografia, permitirá, com o maior realismo, uma melhor compreensão do mundo feminino em que nasceu e viveu Maria do Céu? Em tempos de verdadeira subalternização da mulher?
Da mulher e dos seus direitos enquanto esposa, filha, irmã e mãe. Trave-mestra e fiel-da-balança na família. Educadora dos filhos, obreira doméstica do lar. Trabalhadora que, no campo ou no monte, sempre ombreou com a robustez do homem. Cidadã por inteiro, que sempre o foi por merecimento....... »

                                                      ( Da Nota Introdutória)  
















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,                       AURORA SIMÕES DE MATOS, A “CANTORA DA BEIRA-PAIVA”

LANÇOU EM CASTRO DAIRE O SEU ÚLTIMO LIVRO

 " A SOBREVIVENTE "



E não seremos todos uma farripa da “Sobrevivente”? Há céu e Céu em nós.


Tarde quente de fim de verão. As lajes das penedias do Montemuro ainda refletiam o calor do astro-eterno. Os campos anseiam as primeiras suaves chuvas para voltarem a dar o pasto tenro aos animais. Cheirava a trovão e a uva, ouvia-se o murmúrio da água fresca que corre na Paiva, no seu trajeto buliçoso em direção ao Douro-pai. Cheira a festa, a recordação, a intensidade de sentimentos e nobreza de palavras.


É uma tarde para relembrarmos grandes mulheres do século XX: Marie Curie, Corazon Aquino, Evita Péron, Coco Chanel, Margaret Tatcher, Indira Ghandi, Natália Correia e…. Maria do Céu Trindade.


Esta última é uma desconhecida do público leitor, mas foi a mais importante na tarde do dia 13 de setembro. Graças à pena multifacetada da escritora Aurora Simões de Matos, Maria do Céu Trindade é a protagonista da biografia romanceada, logo mais verdadeira e humana, “A Sobrevivente- Direitos e Deveres da mulher rural no século XX”, que veio a lume (tarde quente esta, em terras castrenses), no Centro Cultural de Castro Daire com a presença do povo, dos familiares da protagonista e da autora, das entidades oficiais e das mulheres de várias gerações da beira-Paiva.


Quem foi Maria do Céu Trindade? Foi uma menina/mulher/heroína anónima e trabalhadora que nasceu e viveu na Quinta da Seara, um lugarejo do concelho de Castro Daire para os lados, mas ainda distante, de Vila Seca, da Ermida e de Pinheiro. A mãe, Emília, casa com João, deu à luz esta Céu que viveu desde 1902 (últimos anos do regime monárquico) até 2012 (ano de uma crise sem precedentes). Ti(a) Maria do Céu mal soube da Implantação da República, ouviu falar de Salazar, soube do 25 de abril e, com 100 anos, dançou numa discoteca. Resistiu à rubéola, à poliomielite, às gripes, às fomes e ao Vento de Cima. Venceu a solidão, resistiu aos amores, criou 5 filhos (os 4 irmãos e o pai) e teve um fim de vida feliz... Primeiro, a sua cabrita inseparável (meio gente, meio bicho) na Quinta da Seara. Depois, os amigos reconfortantes do Lar da Santa Casa da Misericórdia de Castro Daire.


Não foi à escola mas sabia contar histórias, cantar melodias ancestrais e rezar orações sentidas como ninguém. Emocionava-se com as crianças que nasciam, com o ciclo das colheitas, com o marulhar do ribeiro da Seara. Mas chorava com a história daquela mãe que morria no parto quando nascia o seu 12º filho ou com aquele homem insensato que fugia para o Brasil deixando a sua desgraçada mulher com tantos filhos às costas. Entristeceu como nunca quando via morrer a sua “Quinta da Seara”, mas rejuvenesceu sempre que a urze lhe injetava essa seiva da vida chamada coragem.


Foi uma tarde de mulheres e de vozes de Minerva. Não esqueço o sorriso contagiante da Drª Conceição Barros, Provedora da Santa Casa da Misericórdia de Castro Daire, que lançou este desafio literário a Aurora Simões de Matos. E houve vozes a cantarem poemas, a beberem dos açudes da tarde: Fátima Matança com “Princesa da Serra”, Ana Cardoso com “Meu Paiva, rio de prata”, ambos poemas de Aurora Simões de Matos. Houve leitura clara, incisiva e verosímil de excertos de “A Sobrevivente”, por Isabel Matança. Houve teatro com excerto da mesma obra pelos atores da Associação “Flores da Aldeia” de Mosteirô, sob coordenação de Celeste Almeida. Houve coro da Santa Casa da Misericórdia e a presença de tantas sobreviventes, as velhinhas com os seus sorrisos meigos e sulcados pela vida dura que levaram.


Também houve Mesa de Honra: senhor vereador da cultura do município castrense, Dr. Rui Braguês; Drª Teresa Adão, da editora “Edições Esgotadas”; Drª Conceição Barros (já referida anteriormente) e o senhor Manuel Trindade, sobrinho da “Sobrevivente”.


A apresentação do livro foi feita, de forma invulgar e com a imponência da Serra do Montemuro e a frescura das águas da Paiva por… Aurora Simões de Matos. Momento inédito e de coragem.
 De facto, esta mulher é um espetáculo. Na vindima da escrita faz tudo… pesquisa, escreve, apaga, volta a escrever, põe os pontos nos is , elogia e critica. E Aurora Simões de Matos não esqueceu de agradecer aos amigos, aos colaboradores, à sua editora, ao povo castrense e duriense. Recordou com nobreza a alma do seu irmão, Jaime Gralheiro, homem do teatro e da cultura da Beira e de Portugal.
 Na apresentação estava a Aurora disfarçada de Céu… ou a Céu com a voz da Aurora. Autora e protagonista fazem parte desta ordem do universo chamada destino. As duas têm em comum a “sacralidade” da Natureza que se espraia da Arada ao Montemuro, dos ribeiros à Paiva, dos milhos aos moinhos, dos carreiros às ermidas.
Têm a diferença de Aurora ter ido à escola e ter tido três filhas lindas e dignas da herança paivense. Mas a força da sobrevivência, o amor à vida, a ruralidade de cariz universal, o aroma à urze e a frescura das levadas estão presentes no húmus da autora e da protagonista, fundindo-se nas “orações feitas de mágoa”, na obediência “aos senhores seus pais”, na beleza do vento nos salgueirais e no ideal inequívoco de que a família é o mais importante.
 Ambas sabem, à sua maneira, que o mundo é um local onde o que arde (sentimentos) cura as dificuldades e as agruras. Ambas sabem que viver é sorrir e chorar com amores e dores; viver é sentir as manhãs de orvalho e as tardes de estio, calorosas da vagem ao grão e fartas da sementeira à colheita.


António Martins


(Artigo para a Imprensa)












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Aurora Simões de Matos


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NOTA:

A  "  SOBREVIVENTE  " EM 2ª EDIÇÃO



UM AGRADECIMENTO  ÀS COMUNIDADES PORTUGUESAS NO ESTRANGEIRO QUE MUITO SE INTERESSARAM NA PROCURA DA OBRA E A ESGOTARAM A 1ª EDIÇÃO DE MIL EXEMPLARES, EM MENOS DE UMA SEMANA.

MUITO OBRIGADA !!!

                    Aurora Simões de Matos



2 comentários:

Anónimo disse...

Caríssima Aurora,

Obrigada por nos transmitir estes testemunhos no feminino e sobre uma época em que a mulher foi tão esquecida e ignorada.
Li e refleti sobre alguns dos episódios que relata. Concluo: hoje estamos no bom caminho, mas há muito trilho a vencer.
Continue.

Isilda Lourenço Afonso

raiz de xisto disse...

Obrigada, cara Isilda Lourenço Afonso,pela palavras de apoio e pela sua presença, no lançamento do livro em Castro Daire.
O meu abraço e votos de muitos êxitos para o seu trabalho...

Aurora Simões de Matos