Faz com a mão uma concha
e guarda o som do mar na concha da tua mão.
A tua mão é o búzio
no areal do teu corpo.
Com a tua mão em concha
vais ouvir o marulhar e com ele a voz do vento.
Guarda em ti esse momento da voz de Deus a cantar...
E se no teu areal
perpassar a emoção desse instante que é só teu,
espraia-te à beira-mar
e respira a voz de Deus na brisa do seu cantar!
e guarda o som do mar na concha da tua mão.
A tua mão é o búzio
no areal do teu corpo.
Com a tua mão em concha
vais ouvir o marulhar e com ele a voz do vento.
Guarda em ti esse momento da voz de Deus a cantar...
E se no teu areal
perpassar a emoção desse instante que é só teu,
espraia-te à beira-mar
e respira a voz de Deus na brisa do seu cantar!
LONJURA
É tal a imensidão da dimensão do mar
que o olhar se perde
e a voz nele se dissipa.
Do concreto se passa ao abstracto
e tudo se dilui e se desfaz
na dispersão de lonjura tamanha.
O corpo se arrebata e a alma se desfoca
quando tudo o que eu queria
era apenas sentir
que a minha solidão
é espaço de cumprir o tempo que se evoca.
SOL-PÔR
O horizonte vestiu vestes de fogo
e o sol incandesceu e tudo é luz
na linha que limita o fim do mar.
O milagre paira ainda um instante
diante do olhar
na deslumbrante hora de se esconder.
E só então
o sol se esconde e num repente
se afunda à nossa frente
em majestosa exibição
Já se não vê
a bola que de fogo se vestiu
e inundou de rubro o horizonte.
Do céu desceu e se escondeu
do nosso olhar por hoje mesmo defronte
para voltar amanhã à mesma hora
do lado oposto de onde nasce a aurora
AGITAÇÃO
O mar se agita com desassombro
Onda desfeita, outra se apronta
O leão salta, ruge a procela
e se enovela
aos pés da rocha que se amedronta
Em espuma branca
todo vergasta, o mar se solta
em leviana insensatez, quase uma afronta.
AGUARELA
Um quadro sem moldura
uma paisagem
manhã serena
Não há gaivotas
A luz intensa
azul e azul
e um barquito que se despede no horizonte
Aurora Simões de Matos
no livro " Poentes de mar e serra" - 1997