segunda-feira, 21 de agosto de 2017

A VOZ DO MAR, VOZ DE DEUS



                                                                                                                  
Faz com a mão uma concha
e guarda o som do mar na concha da tua mão.

A tua mão é o búzio
no areal do teu corpo.

Com a tua mão em concha
vais ouvir o marulhar e com ele a voz do vento.

Guarda em ti esse momento da voz de Deus a cantar...

E se no teu areal
perpassar a emoção desse instante que é só teu,
espraia-te à beira-mar
e respira a voz de Deus na brisa do seu cantar!



LONJURA

É tal a imensidão da dimensão do mar
que o olhar se perde
e a voz nele se dissipa.

Do concreto se passa ao abstracto
e tudo se dilui e se desfaz
na dispersão de lonjura tamanha.

O corpo se arrebata e a alma se desfoca
quando tudo o que eu queria
era apenas sentir
que a minha solidão 
é espaço de cumprir o tempo que se evoca.


SOL-PÔR

O horizonte vestiu vestes de fogo
e o sol incandesceu e tudo é luz
na linha que limita o fim do mar.

O milagre paira ainda um instante
diante do olhar
na deslumbrante hora de se esconder.

E só então
o sol se esconde e num repente
se afunda à nossa frente
em majestosa exibição

Já se não vê
a bola que de fogo se vestiu
e inundou de rubro o horizonte.

Do céu desceu e se escondeu 
do nosso olhar por hoje mesmo defronte
para voltar amanhã à mesma hora
do lado oposto de onde nasce a aurora




AGITAÇÃO

O mar se agita com desassombro
Onda desfeita, outra se apronta

O leão salta, ruge a procela
e se enovela
aos pés da rocha que se amedronta

Em espuma branca
todo vergasta, o mar se solta
em leviana insensatez, quase uma afronta.


AGUARELA

Um quadro sem moldura
uma paisagem
manhã serena

Não há gaivotas

A  luz intensa
azul e azul
e um barquito que se despede no horizonte


Aurora Simões de Matos
no livro " Poentes de mar e serra" - 1997


















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