GLÓRIA DUARTE PINTO
(13/ 07/ 1919 - 12/ 06/ 2004)
Na sua voz
(13/ 07/ 1919 - 12/ 06/ 2004)
Na sua voz
havia sempre um sorriso de luxo
verdade que sabia contar como ninguém
Era um sorriso até depois da partida
como livro espalhado pelo tempo
Falar sem palavras
uma missão de infinda ternura
seus dias
no voo das pombas de asas já gastas
E sorria, sorria sempre, sem fadiga na voz
e no olhar, esbatido embora
Passeava memórias pela casa
os passos mornos
sem pressa nem alvoroço
Naqueles dedos
havia sempre um gesto de luxo
verdade que sabia oferecer como ninguém
Era um gesto de afago doce
capaz de redimir todas as culpas
como uma bênção que se espera
ou um perdão
Passeava lembranças pela casa
encantos - desencantos de heroína
na lenda onde há muito se perdera
No seu olhar
havia sempre uma intenção de luxo
verdade que sabia sentir como ninguém
Era um olhar de afectos silenciosos
emoldurados de matiz suave
colhidos e guardados com amor
seus dias
no rasto de uma vida de passos já gastos
E sorria, sorria sempre
sem consentir cansaço
naquele timbre de voz, sofrida embora
Passeava saudades pela casa
tantas... que por força de as sentir
nelas se transformou e nos deixou
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