quarta-feira, 19 de setembro de 2012

D. João Crisóstomo Gomes de Almeida, um Bispo de forte personalidade



D. JOÃO CRISÓSTOMO GOMES DE ALMEIDA,


UM BISPO DE FORTE PERSONALIDADE






Viseu, 1956 - Ordenação Episcopal de D. João Crisóstomo Gomes de Almeida 

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 Estendido na vertente do Montemuro voltada ao rio Paiva, o simpático lugar de Outeiro de Eiriz, na Freguesia de Parada de Ester, concelho de Castro Daire, orgulha-se de ter sido, no século passado, berço de uma das mais proeminentes Figuras da Religião e da Cultura da nossa Diocese, a Diocese de Lamego.

De facto, ali nasceu, no dia 27 de Janeiro de 1901 e no seio de uma das mais abastadas e conceituadas famílias da região, João Crisóstomo Gomes de Almeida, que viria a ser mais tarde o prestigiado e entre nós conhecido por «Senhor Bispo de Eiriz».

Os pais, Augusto Gomes de Almeida e Felizina Teixeira Gomes, da Casa Grande do Outeiro, aí criaram a numerosa descendência, segundo os valores da moral tradicional, do civismo e da religião católica, tendo o filho mais velho, João Crisóstomo, sido encaminhado para a frequência do Colégio de Lamego onde, dando já provas de grande inteligência e personalidade, fez o curso liceal. Seguiu-se a admissão no Seminário de Viseu, onde concluiu Humanidades, Filosofia e Teologia.

Não mais desistiu da vida eclesiástica, sempre apoiado pelo padrinho, familiar e grande amigo, o Rev. Pároco do Marco de Canaveses, que certamente terá exercido grande influência nas escolhas do jovem afilhado.

Foi ordenado Presbítero a 10 de Junho de 1922 e nomeado Secretário Particular do Prelado D. António Alves Ferreira, em 1924.

Mas já em 1923 era professor do Seminário de Viseu, onde leccionou várias cadeiras, passando a Reitor do mesmo, em 1934.

Nomeado Vigário Geral do Bispado a 23 de Abril de 1950, foi também camareiro secreto supranumerário de Sua Santidade, com o título de Monsenhor e a faculdade de ministrar o Santo Crisma na Diocese.

Em todas as funções que exerceu, tanto no âmbito de superior do Seminário, como no de Vigário Geral e outras atribuições de grande responsabilidade e exigência, demonstrou sempre grande competência e zelo apostólico, tendo dedicado especial interesse e carinho à Acção Católica e à pregação.

A sua cultura pela arte e a sua sensibilidade estética levaram a que várias vezes fosse solicitado para orientar a construção de igrejas e residências paroquiais. E, como professor de Arqueologia e Arte Sacra, incutiu aos seus alunos seminaristas e jovens sacerdotes o culto do equilíbrio no gosto pela decoração e conservação dos templos e seu património artístico.

Foi eleito Bispo Titular de Gerafi e Bispo Auxiliar de D. José da Cruz Moreira Pinto, Bispo Titular de Viseu, tendo sido sagrado a 8 de Junho de 1956. Assim, até à morte de D. José da Cruz, em 1965, foi D. João Crisóstomo o seu dedicadíssimo braço direito.

Nesse mesmo ano, resignou e recolheu-se à tranquilidade do lar, a Casa Grande do Outeiro de Eiriz onde passaria, no seio da família, as últimas três décadas de vida.

Diariamente celebrava a Eucaristia na Capela particular da sua residência, mandada por si construir, em 1948. Apesar do recolhimento que caracterizou todo esse tempo, era também natural a convivência com as gentes humildes mas honradas da sua terra, onde granjeou simpatias e sobretudo o maior respeito. Sempre muito acompanhado e apoiado pelo sobrinho e afilhado, o Rev. Padre João Crisóstomo, ainda até há pouco responsável pela paróquia de Parada de Ester e que continua a habitar a mesma Casa Grande .

Faleceu na residência onde, quase um século antes, vira pela primeira vez a luz do dia. Foi a 18 de Janeiro de 1996, uma semana antes de completar 95 anos. Jaz no cemitério de Parada de Ester, em sepultura de família.

A Junta de Freguesia de Parada, a que se associou a Câmara Municipal de Castro Daire, prestou-lhe, ainda em 1996, poucos meses após o seu desaparecimento, sentida homenagem, tendo descerrado um busto em bronze, sobre pedestal de granito, ao lado da entrada principal da Igreja Matriz.

Algum tempo depois, em 1997, o Município de Castro Daire levou a cabo uma outra manifestação de preito, dando o seu nome a uma nova praceta da vila, onde figura, em lugar de destaque e sobre base de granito, um medalhão alusivo.

Muito estimado em Viseu, onde fez toda a carreira sacerdotal, nesta cidade tem o seu nome perpetuado numa rua, por sugestão do Chanceler da Cúria Diocesana à respectiva Câmara Municipal, que prontamente a aceitou e lhe deu andamento prático.

Foi o reconhecimento público dos que consigo privaram e que, além de honrar aqueles de quem generosamente partiu, deixa para a posteridade marcas da admiração, do respeito e do carinho por uma Figura incontornável da nossa região e da nossa Diocese, que soube, em cada momento, assumir uma dignidade de que todos os seus conterrâneos devem orgulhar-se.

Pela minha parte, que guardo nas memórias de infância o forte impacto da impressiva imponência de D. João Crisóstomo em suas vestes de festa, em alguns dos momentos mais altos da vida paroquial da minha terra, fica cumprido o desejo de trazer ao grande público algumas notas biográficas, que possam contribuir para um melhor conhecimento daquele que foi, no século XX, sem dúvida uma das mais prestigiadas personalidades do Montemuro e  beira- Paiva.



D. José da Cruz Moreira Pinto, Bispo Titular de Viseu,
tendo a seu lado D. João Crisóstomo, seu Bispo Auxiliar
Viseu, 1958

***


Nota:
Um especial agradecimento ao Rev. Cónego Sílvio Duarte Henriques, Chanceler da Cúria Diocesana de Viseu, pela disponibilidade na cedência de dados biográficos do Senhor D. João Crisóstomo, bem como das fotos que ilustram este trabalho.


*Aurora Simões de Matos


Igreja Paroquial de Parada de Ester, vendo-se, do lado esquerdo da imagem, um busto de D. João Crisóstomo




Cemitério de Parada de Ester





Vila de Castro Daire





Eiriz e, mais ao longe, Mós

Freguesia de Parada de Ester, concelho de Castro Daire


Casa Grande do Outeiro, em Eiriz  -  a casa onde nasceu
e morreu D. João Crisóstomo



                                                                 * Aurora  Simões de Matos

6 comentários:

Ramos disse...

Gostei! Estive na Sé de Viseu na sua ordenação como Bispo.Fiz para o Senhor Bispo torradas e chá quando, à hora do lanche, visitava os acampamentos dos escuteiros de Viseu.
Que mais dizer ?!Lindos tempos!
A sua proteção celeste.
Felisberto Ramos

raiz de xisto disse...

Nesse tempo,ainda eu não tinha chegado a Viseu.Mas foi ele que me ministrou o Sacramento do Crisma,na igreja de Parada de Ester. Impressionava pela imponência das suas vestes e pela austeridade do seu porte.Paz à sua alma.
Aurora

Unknown disse...

Estou a procurar minhas raízes portuguesas. Meu avô nasceu em Parada de Ester e seu nome era Alfredo Dias de Almeida. Será que você poderia me indicar onde posso procurar essas informações? Obrigada, Ana

raiz de xisto disse...

Olá,Ana Almeida
Se procura raízes em Portugal,apenas de natureza familiar e se seu avô era de Parada de Ester,aconselho-a a contatar a Junta de Freguesia ou a Paróquia de Parada de Ester.Ambas possuem sites próprios.Se deseja saber das suas raízes num sentido mais vasto,penso que este é o melhor sítio de que tenho conhecimento.Aqui vou partilhando usos e costumes daquela zona,levando ao grande público paisagens e viveres,linguagens,espiritualidades e sentires em diversas abordagens.

Boa sorte,Ana...

Anónimo disse...

Cara Ana, veja o site do Arquivo Distrital de Viseu:
PRQ/PCDR06 Paróquia de Ester [Castro Daire] 1741-11-09/1882-12-25 Registo de Baptismos de Casamentos de Óbitos

http://digitarq.advis.dgarq.gov.pt/details?id=1053402

Unknown disse...

Obrigada pela ajuda. Ainda não encontrei o que procurava mas agora estou a fazer um doutoramento aqui em Lisboa e creio que terei mais tempo para procurar e inclusive, quem sabe, visitar Parada de Ester.
Obrigada mais uma vez,
Ana Almeida