domingo, 25 de fevereiro de 2018

FONTE VELHINHA - Poema de Aurora Simões de Matos


                                             NA FONTE  DAS  ALIANÇAS



Sempre que a vida me leva
a passar junto da fonte
que me oferece a frescura
da água que vem do monte
onde linda e sossegada
se espraia a minha aldeia
de luz branca e tez escura
bebo na concha da mão
dois goles de água tão pura
que fico logo curada
dos males do coração

Meus males são tão só da ausência
da fonte da minha aldeia
que me provoca saudade
e não me sai da ideia
e me traz ecos antigos
de tempos que já lá vão
e que remontam à idade
em que minha mãe lavava
com canções da mocidade
os meus cueiros puídos
na poça que transbordava

Na poça ao lado da bica
onde à hora da torreira
as mulheres iam lavar
as roupas da aldeia inteira
e se banhavam crianças
e se arrastavam conversas
até o dia finar
até a água se abrir
à hora de namorar
na fonte das alianças
das lembranças a florir

Minha aliança com ela
foi de quando em vez  revê-la
e beber na minha mão
dois goles de água fresquinha

Consolar meu coração
junto da fonte velhinha





                                                                        Aurora Simões de Matos

2 comentários:

Lurdes Gomes disse...

Um momento sublime, sincero e nobre de memórias da existência. Memórias que espelham saudade, mas que continuam o seu casamento sustentado pela aliança da água… da velhinha fonte. Muito bonito.
Lurdes Pereira

raiz de xisto disse...

Muito obrigada, Lurdes Pereira, por esta surpresa bonita. Há versos de água que nos brincam na memória, que nos vivem na saudade. Se eu fosse fonte, dava-te um rio!

Beijinho tertuliano
Aurora Simões de Matos