terça-feira, 14 de agosto de 2018

A MINHA CONVERSA COM BRITES DE ALMEIDA

PADEIRA DE ALJUBARROTA

UMA ESTÁTUA INGÉNUA COM ARES DE INCRÉDULA



MUDAM-SE  OS  TEMPOS,  MUDAM-SE  AS  VONTADES


TARDE DE AGOSTO EM ALJUBARROTA, numa esforçada conversa com a famosa Padeira Brites de Almeida, tentando convencê-la a emprestar-me a eficiente PÁ, com que terá, de uma vez só, dado cabo de sete deles.
Cumplicidades entre Mulheres de Barba Rija!!!
Só que, apesar do meu poder de argumentação (que pelos vistos já conheceu melhores dias), a Padeira olhou-me de lado e, com aquela cara de lata, fez de contas que as estátuas não ouvem!!!

É que, por certo, ela nunca entenderá que, passados pouco mais de seis séculos sobre o heróico episódio que a tornou lendária, muitos dos países desta velha Europa tenham perdido o Orgulho pela sua INDEPENDÊNCIA... e que alguns já tenham desistido de por ela lutar...
E nunca entenderá também que a mesma velha Europa dos grandes valores tenha perdido a GENEROSA SOLIDARIEDADE entre os Povos, para se alhear de uma das maiores tragédias humanitárias da História do Mundo.
Porque fechar as fronteiras a quem foge da fome, da guerra e da morte, erguendo muros ou abrindo barquitos de borracha para uma morte quase certa no Mediterrâneo, além de cruel, arrogante e sádico, é um triste testemunho dos tempos negros da pior mostra do ser humano.

POBRE VELHA EUROPA, que se tornou hipócrita!!! 

POBRE PADEIRA DE ALJUBARROTA, que se tornou ingénua!!! 

POBRE DE MIM, que me tornei implacável!!!

NOTA:
Um destes dias, regressarei, em busca da PÁ. Porque as negociações não podem parar, perante alguém que, por incredulidade, virou cara de lata!

                                                                                 Aurora Simões de Matos



                                                                                                Aurora Simões de Matos


segunda-feira, 6 de agosto de 2018

OS HERÓICOS RESISTENTES DO PORTUGAL PROFUNDO


TEXTO de Aurora Simões de Matos

IMAGENS de Portugal Rural by Armando Jorge







OS  RESISTENTES


Não me surpreende a paragem do viajante, de binóculos, esmagado ao gigantismo de uma paisagem dominadora.
Não me surpreende o fervilhar da gente que, nestes dias de férias estivais, coalha os caminhos, as romarias, as feiras, o mercado da vila, os pequenos e os grandes restaurantes à beira das estradas, as partes de rios e ribeiras mais convidativas a uma boa tarde de sol e de lazer.

Não me surpreende a dimensão do amor subjacente aos gestos, atitudes e conceitos unificadores do sentimento colectivo que transforma a vivência social no pulsar de uma cultura que, atravessando todos os sobressaltos, segue o curso que parece dar sentido ao tempo histórico, em permanente interacção entre a fé, a razão e o sonho.




Desde há décadas que o destino de muitos dos pastores e agricultores das extensas encostas do Portugal Profundo  deixou de acompanhar o movimento das estrelas e as fases da lua e de esperar pela chegada cíclica das estações do ano.


A estrutura básica de uma economia matricial de subsistência deixou há muito tempo de satisfazer as suas necessidades e as suas mais que legítimas ambições.

Não me surpreende, pois, a partida dos que, desde há cerca de cem anos até aos nossos dias, num crescendo quase fatal, buscam noutras paragens o amenizar de uma vida quase sempre confrontada com a inevitabilidade de outras dores e de outros suores.

O que me surpreende é o orgulho e a tenacidade dos resistentes, o estoicismo dos que ficaram que, colmatando fracturas bem a descoberto em dolorosos abandonos e em aparatos mais ou menos desarticulados, continuam a perseguir valores ancestrais e conceitos de património, assumidos ao rigor máximo da herança que receberam e que querem, a todo o custo, transmitir incólume.

Num testemunho de coerência verdadeiramente heróica, a força desta gente continua a ser o alicerce singular de uma cultura fiel às suas origens. (…)



                                        ©      Aurora Simões de Matos