quinta-feira, 13 de julho de 2017

A MINHA ALDEIA

ALDEIA DE MEÃ - PARADA DE ESTER
CASTRO DAIRE




SUBLIMAÇÃO

 A minha aldeia é linda, linda, linda
 rendando a falda à bela Montemuro 
É o passado à espera do futuro
neste presente que o não é ainda




Morena, sensual, toda verdade                                        
insinuando-se ao Paiva, sedutora
escondendo a inocência encantadora
num jogo lindo de cumplicidade

entre férteis lameiros, milheirais

caminhos soltos onde a água corre
e o sol que a abrasa numa oferta
a que o rio não resiste mais
e em arquejos de amor como quem morre
lha cai aos pés numa paixão aberta


E assim vivendo, em plena doação
se complementam na doce magia                          
suprema dum amor todo alegria
que não lhes cabe sequer no coração
e transbordando para além de si
inunda os montes, as pedras, os caminhos
o sol, o céu, ventos e ribeirinhos
como se o mundo fosse todo ali


Passam as vidas para além do tempo
passam os tempos além das ideias
e o rio... sempre na mesma pureza
dum amor sublimado em sentimentos
que oferece à mais pura das aldeias           
que só nele mira sua eterna beleza


no livro " Pontes de mar e serra" - 1997 



(Fotos de Miguel Batalha)                                    
                                                                                                                                   


                                                      











Aurora Simões de Matos

                             Aurora Simões de Matos

domingo, 2 de julho de 2017

DOS INCÊNDIOS ÀS ARMAS ROUBADAS E AO FUTEBOL - AS MINHAS CONVERSAS COM O INFANTE, EM JEITO DE DESABAFO

AS  MINHAS  CONVERSAS  COM  O  INFANTE

JULHO, 2017


Visitei o INFANTE D. HENRIQUE, na sua Casa da Ribeira do Porto. Fui recebida à entrada pela histórica Figura, tendo mantido com ela uma longa conversa, em modo de desabafo.

Não, não lhe falei da política expansionista de Portugal do seu tempo. Que muitos aplaudem e outros tantos criticam. Nem de gente escravizada. Nem do seu jovem irmão D. Fernando, que morreu prisioneiro em Fez, no Norte de África, perante a posição irredutível de D. Henrique e D. Pedro, em não entregarem Ceuta aos seus donos primeiros. Certamente, um espinho no sapato do Navegador.«Águas passadas não movem moinhos» e os tempos eram outros, e a palavra Pátria tinha um peso do tamanho do mundo, e D. Filipa de Lencastre não tinha educado a "Ínclita Geração, Altos Infantes" para a desistência, muito menos para a cobardia. E o Adamastor era conversa fiada que não lhe metia medo. E havia povos a precisarem de ser evangelizados. E etc... etc... etc... bla bla bla...  bla bla...bla...que muitos seriam os argumentos da ilustre Figura. E a economia, a cultura, a língua e a geografia estavam mesmo a pedir medidas de alargamento! - haveria de dizer-me, sem tibieza na voz.

Não fui ali para lhe falar das Descobertas, nem da Guerra Colonial que se lhes seguiu, cerca de 5 séculos depois, e que grande mossa haveria de deixar na portuguesa gente moça.

O INFANTE É O INFANTE, e o seu lugar na História ninguém lho tira nem põe em causa. Como ninguém porá em causa o patriotismo subjacente a todo o movimento de expansão territorial das diversas potências ultramarinas, naquele tempo. Que fez dos Portugueses os grandes impulsionadores da recuperação de uma Europa em crise, por via dos milhões de pessoas mortas com a peste negra e por via das guerras religiosas. E que tornou Portugal numa grande potência mundial e no primeiro Império de grande amplitude, a nível global. Maneiras de ver a coisa, maneiras diversas de ler a História. Que nessas maneiras haverá sempre discordância da grossa.

* *  *

Assim sendo, tinha eu encontrado o melhor interlocutor para o meu revoltado desabafo. Vai daí, barafustei:


Senhor Dom Henrique

- Como pode este país tão cheio de referentes heróicos pela sua soberania e engrandecimento, solidariedade e respeito por si próprio, deixar arder incautamente 500 milhões em bens, um valor incalculável em vidas humanas, tantas certezas  e tantas esperanças, sem ninguém de boa fé colocar sem medos a mão na consciência individual e colectiva, encontrar o rasto que despoletou o crime e se assumirem as verdadeiras culpas?!

- Como pode este país dormir tranquilo, quando quem tem o dever de olhar pela sua segurança se deixa adormecer, à hora a que assaltantes lhe levam armas e munições, material de guerra, de defesa e segurança, talvez para ser usado em ataques terroristas contra si próprio?! Talvez por desleixo grosseiro que nos envergonha? Talvez por falhas previstas, confirmadas e desvalorizadas por quem subiu ao poleiro e dali não enxerga senão o que lhe convém?! Talvez por, ingenuamente, não se ter ainda reparado que o mundo está em guerra?!

- Como pode este país de grande destaque no futebol mundial, o desporto mais popular de sempre a nível global, aquele que arrasta multidões e envolve orçamentos astronómicos, que faz parte da nossa cultura, que além de ser superiormente considerado na literatura, no cinema, na televisão, na música, desempenha um forte papel na saúde física e psíquica das gentes e na solidariedade entre os povos, como pode este país permitir que alguns dos seus clubes mais prestigiados se tenham entregado ao ódio e à vingança extrema, exibindo na comunicação social para o planeta atónito, o ridículo de e-mails comprometedores de grandes nomes do desporto-rei envolvidos em corrupções, tráfico de influências, branqueamento de gestos e de palavras, vilezas e descalabros... e a denúncia de rezas e bruxarias encomendadas a especialistas portugueses e estrangeiros da magia negra?
Isto, claro, sem nunca ninguém chegar a acordo e  a consenso, quanto a culpados, que os não há, obviamente!!! Como se sentirão Eusébio, Mário Coluna, Peyroteo, Luís Figo, Cristiano Ronaldo?


O INFANTE ouviu, suspirou, colocou a mão em pala sobre o olhar que dava para o rio e se prolongava pelo mar fora, perscrutou as ondas da vida, e respondeu, rouco de pasmo:

- Pobre Portugal... assim não vais longe!!!

E, cobrindo o rosto com as largas abas do inconfundível chapéu, rematou, incrédulo:

- Para não ver misérias!...

***

Por mim, dei meia volta, entrei no Museu ali a dois passos e fui visitar a Exposição sobre "O Foral do Porto", inaugurada a 10 de Junho último, com a presença do Presidente da República, Professor Marcelo Rebelo de Sousa.
E dessa visita vos deixo alguns registos:







Assinatura no LIVRO DE VISITAS

PRAÇA DO INFANTE

                                            CASA DO INFANTE - PORTO



                                                           *Aurora Simões de Matos