sábado, 9 de dezembro de 2017

CONTO DE NATAL


A CAMINHO DO PRESÉPIO - Aurora Simões de Matos

CONTO DE NATAL
Autora - Aurora Simões de Matos
A caminho do Presépio


Por tapadas e quebradas, vales, ladeiras e altos cabeços, soutos, pinheirais e milheirais, carreirinhos de chão pisado entre carquejas e sargaços, urzes e giestais, ouvia-se, qual hino de boas-vindas, o cântico solene de um coro universal.

― Parece que toda a Terra está em festa! – murmurou o cordeirinho tresmalhado, de olhar meigo voltado para o Céu.


― Eu estava à tua espera, cordeirinho! – respondeu a estrela cadente, irmã de milhões de outras estrelinhas espalhadas pelo escuro da abóbada celeste. Para te dizer que tens irmãos e que, de olhos postos no horizonte, te esperam ansiosos. Vai, cordeirinho, corre, não os faças esperar mais. Eu ensino-te o caminho.


― E quem está a cantar esta música tão linda?


― São os anjos do Céu. É Natal, nasceu um Menino no coração de cada homem e esta noite todos param para festejar o grande acontecimento. Mas tu és pequeno demais para compreenderes estas coisas. Agora só tens que te apressar, cordeirinho. Eu ouvi no espaço a oração do jovem pegureiro aflito, pedindo a Maria a graça do teu regresso.


― É muito longe a casa dos meus irmãos, linda estrelinha?

― Duas léguas e meia, por tapadas e quebradas, vales, ladeiras e altos cabeços, soutos, pinheirais e milheirais, carreirinhos de chão pisado entre carquejas e sargaços, urzes e giestais. Estão todos à tua espera, a tua ausência uniu-os numa corrente de fé, grande é a esperança em tempo de Natal. O Presépio da Igreja está pronto e o teu lugar lá está reservado. Até à última hora e para além dela, ninguém poderá nunca ocupar o teu espaço. Se não te atrasares, chegarás a tempo, cordeirinho.


Pelos caminhos da serra, a sós com estes pensamentos, seguia ele o trilho das estrelas, iluminado pela mais brilhante de todas. Perto de um povoado, agigantou-se no silêncio da noite o cantar misterioso do galo emproado, de grande crista vermelha. A seu lado, a galinha poedeira abriu um olho e, ciente de galinácea sabedoria, cacarejou:


― Já pouco falta para a meia-noite. São quase horas da Missa do Galo e eu não quero deixar de representar a classe, como respeitada poedeira que sou.






E, atrás do galo todo emproado, em duas corridas alcançou o pequeno cordeirinho, à luz da fascinante estrela e ao som de um coro de vozes que não se sabia de onde vinham.


Os três, felizes, mas em silêncio, como se todo aquele ambiente e suas personagens fizessem parte da mesma oração, seguiram carreiro fora, à flor da terra batida e escura, fendida por pedaços de lousa macia e cortante.







À passagem dos devotos peregrinos, o cão de guarda da pequena casa isolada, à beira do Souto da Pedreira, ergueu-se nas patas traseiras, encostado à cancela de pinho e, espreitando com ar de interrogação, ladrou alto e bom som:


― Quem vem lá, por caminhos fora de horas?


Como ninguém lhe respondeu, rosnou, com ares de quem tudo percebia:


― Por aqui, alta noite estrelada, só quem vá festejar o Natal!


E, apoiando-se numa trave da cancela com as patas dianteiras, abalançou-se com as de trás e, de um salto, estava já a caminho do Presépio, na fila atrás do cordeirinho, do galo emproado e da galinha poedeira.


Cada vez mais perto dos irmãos, o jovem cordeiro, já cansado da longa caminhada, parou um pouco para beber na pequena poça que as chuvas do inverno haviam transformado em bebedouro de água transparente e em cujo espelho viu, nos ares, a estrela cadente que os guiara até ali.





















― Estamos quase a chegar. Segue-me, que eu vou à frente, a riscar com marcos de luz os caminhos que o Menino te destinou. Onde eu parar, entrarás e lá encontrarás os teus irmãos.


Cada vez mais perto, podiam ouvir-se agora, com bastante nitidez, sons de tambor e cânticos de crianças, a ensaiar a grande representação da chegada dos pastores ao Presépio.


Habituado a dar conta e sinal de pessoas estranhas, o cão de guarda apercebeu-se, através duma nesga entre dois telhados, da presença de uma estranha Figura de barbas brancas, vestida de vermelho, com um grande saco às costas.


Ladrou, espavorido, quase a despropósito.




― É o Pai Natal, que anda a distribuir prendinhas pelas crianças da freguesia! Quando chegarem da Missa do Galo, todos irão a correr ao canto da lareira buscar os presentes: rebuçados e chocolates, brinquedos ou livros. O Pai Natal sabe bem como distribuir.


Era a voz da estrela cadente que está, agora, a chegar à torre da Igreja Matriz, onde vai celebrar-se a Eucaristia da mais linda noite do ano.


Como quem toma a melodia do mais belo cântico de amor e boas-vindas e com ela consegue musicar um novo Hino da Alegria, o coro de anjos celestes, voando nas asas da sua voz, entoa por toda a Terra a frase da boa-nova:


- Nasceu Jesus! Nasceu Jesus! Nasceu Jesus!


A Igreja está repleta de fiéis, à espera da hora para o beijo ao Menino, deitado nas palhinhas da manjedoura, no grandioso Presépio Vivo. De súbito, como se o quadro não estivesse completo…


O galo emproado e a galinha poedeira entram de mansinho pela porta principal e, obedecendo ao instinto, vão agachar-se dentro do cesto vazio da pastorinha mais pobre.


O cordeirinho, exausto da longa viagem, nem dá pelos sorrisos doces dos seus irmãos e, sem cerimónia, alcança o bondoso S. José, deita-se a seus pés e adormece tranquilo.

O cão de guarda não entrou. Ele sabe que o seu lugar é à porta. Atento a todos os movimentos, faz um uivo de pasmo à passagem meteórica da estrela cadente que, da torre da Igreja, se lança pelo espaço em vertiginosa correria.


― Não te assustes, cãozinho! Tenho pressa, tenho pressa! Vou agora noutra missão. Lá longe, muito longe, os Reis Magos esperam a minha luz...






                                                    
               Aurora Simões de Matos


quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

PORTUGAL RURAL ( 5 )

                                                             O CANASTRO

Foto de  Armando Jorge
Texto de Aurora Simões de Matos

                          BELO CANASTRO - CAPELA PEQUENINA

Plantada junto à eira, na colina
erguia-se a CAPELA PEQUENINA
bela, robusta, altiva, sobranceira
na sua postura e autenticidade
herdadas do tempo e da rusticidade
da terra-mãe
que lhe oferecera a força e o poder
arrancados à verdade do monte
O granito de seu pés fazendo ponte
e corpo lhe dera
arrancado à verdade do chão
o colmo corrido a cobrir-lhe o ser
e telhado  oferecera
de alma e coração

Belo canastro a relembrar farturas
Trabalhos e canseiras, as mais duras!

O ventre feito de vísceras douradas
na aridez do sol, na aridez do vento
que corria, livre, por suas janelas
à vontade do tempo
e lhe atravessava os ossos
lhe retesava as veias
na generosa intenção de oferecer
a dádiva do amadurecer
o pão, fruto de meses de canseira
do lavrador, até chegar à eira

Belo canastro a relembrar farturas
Trabalhos e canseiras, as mais duras!

Ainda hoje, singelo monumento
à ruralidade que é de todo o tempo
podemos vê-lo no seu lugar plantado
mesmo que das entranhas despojado
belo, humilde, saudoso, na colina
lembrando-nos CAPELA PEQUENINA

Portugal Rural - (4)

                                              DIA DE FEIRA

Fotos de Armando Jorge

Texto de Aurora Simões de Matos





                                 Feira de Barcelos


Na Feira de Barcelos
comprei uns chinelos
de pano, e a chita
pró meu avental.
Dois metros de renda
e três de espiguilha
e uma rodilha.
Pró meu enxoval
um jogo de cama
bordado à mão
que parece igual
ao da Conceição
do Zé do Quintal.

E comprei também
lenço de merino
e umas arrecadas
que levo guardadas
junto ao coração
presas ao corpete
não vá o diabo
por aí tecê-las
e vir a perdê-las
nesta confusão.

Por lá passeei
quase a tarde inteira
que o meu maior gosto
é andar na feira
e apreciar
as louças, os panos
calçado, chapéus
os cestos, o ouro
e as miudezas
que das redondezas
o povo vai ver
comprar ou vender.



Mas o que mais gosto
é passar à beira
da bela hortaliça
toda ela verdura.
Legumes e fruta
plantas e flores
que agora na feira
já há com fartura.
E mais adiante
a feira do gado
Vacas e bezerros
burros, jumentinhas
cavalos e porcos
cabras, cabritinhas
coelhos, galinhas
e outros animais
ao lado do dono
que, a regatear
passará o dia
a tentar vender
aquilo que outros
ali vão comprar.

Ou então... como eu
 só apreciar!





sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

PORTUGAL RURAL (3)

MULHER RURAL - SÍMBOLO DE UM TEMPO

Texto de Aurora Simões de Matos

Imagens de Armando Jorge


 ~~~ MULHER - SÍMBOLO  ~~~
A rezar as memórias de uma longa vida, feita de pequenas coisas. Que, todas juntas, fazem dela a protagonista de uma grande história. 
A história de cada mulher rural, nascida e criada na aridez, pelos rigores da natureza e da vida. 
Companheira do homem, âncora da família, escrava de valores que por tanto tempo a humilharam na sua dignidade. 
A quem tudo, durante séculos, se exigiu, sem o direito de recusa.
E, ainda assim, mulher conformada e sorridente na sua condição feminina.

Mulher guerreira, mulher valente. Mulher trabalhadora, lealmente apaixonada pelos seus, coerentemente apaixonada pela vida.
Mulher-símbolo de um tempo, sem tempo nem condições para dele se desprender.







                                   

           

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Novo livro de Aurora Simões de Matos - " A Escola do Montemuro e beira-Paiva - desafios, conquistas e perdas"


CAPA DO LIVRO E PREFÁCIO, POR AGOSTINHO SANTA

Uma capa a lembrar saudades... sem saudosismos! ( da autoria da designer gráfica, Ana Coelho )
Foto de Carlos Batalha


PREFÁCIO

Quando o professor era mestre-escola


Quando a professora Aurora Simões de Matos falou comigo para escrever umas palavras introdutórias a um livro que tinha escrito, e soube a temática, confesso que fiquei curioso acerca da forma como a decidira abordar.

Pela cabeça passaram-me três caminhos que, ao falar de escola na sua evolução espaço temporal, haveria a tendência de seguir: o primeiro, obedecendo a um impulso saudosista, seria através de uma ode ao passado, fixando nele todas as virtudes, afastando todos os pecados; o segundo, aproveitando a oportunidade vingadora, seria a partir de um acerto de contas com tempos idos e realidades nevoentas, assacando-lhes todas as culpas e nenhuma salvação; o terceiro, refugiando-se num tom tendencialmente neutral, seria um repositório, mais ou menos comentado, de dados históricos e variações estatísticas.

Conhecendo a autora como mulher, como professora e como poeta, desde já antecipo que não acreditei que fosse por qualquer uma dessas vielas discursivas. Maior curiosidade me assaltou: como é que encontraria um percurso outro que se afastasse desses caminhos radicais, tantas vezes trilhados por outros.

Vi o texto que me entregou para uma primeira leitura ainda quente de lhe ter saído das mãos e do génio. E optara por outro caminho, contido dentro de pressupostos de equilíbrio, sem arrogâncias ou penalizações de um passado histórica e humanamente circunstanciado, sem endeusamentos ou diminuições inaceitáveis de um presente/futuro contextualmente assumido e valorado e sem o recurso desviante e protetor a um descritivo desfiar de números e fenómenos de uma complexa realidade social. É um registo impressivo, emotivo, real e circunstancial.

Embora reconduzida, no seu limitado mundo, ao Montemuro e à beira-Paiva do seu maior conhecimento e pessoal vivência, o que nos aparece nesta obra literária é a Escola em si mesma, viva, palpitante, multifacetada, evolutiva. Percebida e escrita com emoção. Colhida, como matriz iniciática, de uma memória a que quis, propositadamente, regressar, aí se perdendo e se encontrando, quatro, cinco décadas ou mais, em tempos e lugares recônditos em que a escola fazia a diferença e se afirmava com um misto de ficcional magia e de prosaica dureza. De forma natural, fala-nos de “quadro preto”, de “menina de cinco olhos”, de “20 carteiras para 62 alunos”, de “almoço côdea de pão”, de “óleo de fígado de bacalhau”, de “ida ao monte ou à sagreta”, de “piões, bilharda e bola de trapos”. E a nossa própria memória viaja para sítios onde cheirava a estrume e a bosta fresca de vaca, a broa quente do forno e a rosmaninho, onde se ouvia a rola, a poupa e o cuco e o zurrar impaciente do burro, onde se sentia, nos pés descalços, a humidade da terra e da erva e a aspereza dos calhaus.



Reflete a autora, assente sempre, em primeiro tom, na geografia serrana e interior em que se quis agarrada mas saindo dela para voos mais abrangentes, no que se foi passando, em metade do século XX e no dealbar do século XXI com a Escola. Não se coibiu de deixar juízos de opinião sobre alguns fenómenos que realçou, mesmo que se tenha sobre eles outros entendimentos:

- o analfabetismo dos anos cinquenta, sessenta, setenta do anterior milénio, associado a um mundo rural rude, económica, social e culturalmente pobre, combatido, com armas elas próprias limitadas, por uma escola de “sonhos e de vontades”, em que o ensino primário e a obtenção da quarta classe, comemorada esta com traje de festa, clamor e foguetório, tinham uma importância bem para além do título académico que conferiam;

- ainda nessas décadas, uma escola rudimentar, com poucas condições de habitabilidade quanto mais pedagógicas e didáticas, de uma exigência desmedida, em que “a quarta classe era uma epopeia”, servida pela repetição e memorização, tantas vezes ao som das “reguadas” e do choro acompanhado pelo “ranho” que as costas da mão pequenita se permitiam limpar;

- a “Reforma Veiga Simão”, seguida, já depois da revolução de abril, pela democratização do ensino, com apostas vincadas na reestruturação dos programas, na formação de professores, no aumento progressivo da escolaridade obrigatória, na criação de melhores condições estruturais e de frequência escolar; diz a professora Aurora que “o Montemuro estava agora mais culto e mais perto de tudo”;

- as crises económicas acopladas a políticas erradas e erráticas, que foram levando à desertificação dos lugares do interior rural e serrano; “E partem.” – diz a autora em tom singelamente acusador, mesmo com “canudos” que a escola proporciona;

- o movimento de encerramento de escolas, a partir de finais do século XX e a sequente criação de agrupamentos e mega agrupamentos, que levarão à impessoalização da relação professor/aluno, transformados esses espaços em “depósito de crianças”, cada vez mais desprezando a “pedagogia da proximidade” e fazendo com que nos anteriores sítios de escolarização, nas aldeias, nasçam “lugares fantasmas”; com isto tudo, “(…) O Montemuro e a beira-Paiva, como sempre, obedecem. Mas sofrem”.



Este livro, para além do mais, é um tributo a uma escola humanizada, em que os seus protagonistas, crianças e professores, fazem da proximidade a marca da sua específica e maior valia. Apresenta-nos, sem saudosismos bacocos, mas também sem menorizações ou remorsos, uma Escola que evoluiu e que, num momento essencial da sua história, foi servida por professoras e professores que eram mestres-escola. Só isso permite perceber o alcance do desabafo da Aurora: “Não tinha quase nada a minha escola” (…) “E, no entanto, tinha quase tudo”.

Eu, que vivi, como aluno, primeiro, e como profissional da educação, depois, a Escola de que o seu livro fala, nas suas variadas e evolutivas realidades e circunstâncias, só posso dizer-lhe: bem haja, professora Aurora, por me ter levado ao sorriso e às lágrimas com coisas que, aqui, escreveu e com histórias que aqui narrou. Semeou em mim a vontade de continuar a afirmar, com convicção, que um dia fui mestre-escola: “Bom dia, senhor professor!!!” Com orgulho.



                                                                                Agostinho Santa
                                                           Inspeção - Geral da Educação e Ciência


domingo, 26 de novembro de 2017

João Fernandes, Cineasta Português

O cineasta João Fernandes, na próxima

 "TERTÚLIA ARTES E LETRAS EM LAMEGO"

TEMA - " SÉTIMA ARTE - O CINEMA EM LAMEGO"
a 16 de Dezembro, às 21,30h, no

SALÃO NOBRE DO TEATRO RIBEIRO CONCEIÇÃO

ENTADA LIVRE!



***
João Fernandes é jovem um  cineasta português. Natural de Armamar, residiu nos últimos anos em Lisboa, onde estudou e trabalhou. E em vários países no estrangeiro, onde fez Erasmus e outras actividades ligadas ao enriquecimento da sua carreira profissional.

Tem marcado presença em vários festivais de cinema, em Portugal e no estrangeiro, onde viu premiados vários dos seus trabalhos.

A R.T.P. 2 passou algumas curtas metragens de sua autoria. Tem apoio do ICA (Instituto de Cinema e Audiovisual) e é bolseiro de várias instituições nacionais e internacionais.

Actualmente reside em Lamego que, segundo as suas palavras, lhe serve de refúgio, inspiração e motor de novas energias.

Para um melhor conhecimento, avaliação e divulgação, deixo o seu CURRICULUM VITAE.

                                                               *****



CURRICULUM VITAE

José Fernandes
1979 – Portugal

EDUCAÇÃO

2014 / 2016 – Mestrado em Artes em Realização de Documentário.
 DOC NOMADS, Joint Master Degree in Documentary Film Directing é distribuído por um consorcio de três proeminentes universidades Europeias: Universidade Lusófona (Lisboa, Portugal), University of Theatre and Film Arts (Budapeste, Hungria), e LUCA School of Arts (Bruxelas, Bélgica).

2000 / 2006 - Licenciatura em Cinema, Vídeo e Comunicação Multimedia com especialização em edição na Universidade Lusófona. Lisboa, Portugal.

 EDUCAÇÃO COMPLEMENTAR

2012 - ARCHIDOC – Desenvolvimento de Documentários baseados em Arquivos. La Fémis. Paris, França.

2006 - Especialização em Realização de Documentário e Edição na Universidade Lusófona. Lisboa, Portugal.

2000 - 1º ano da Licenciatura em Antropologia na Universidade Lusófona. Lisboa, Portugal.

FILMOGRAFIA SELECIONADA

2016 - Da Casa do Vincent na Borinage, Experimental / Documentario Criativo, HDV, 17 min., produção: Docnomads

2015 - Os Guerreiros Intemporais, Documentário Criativo, HDV, 9 min., produção: Docnomads

2014 - Para Lá do Marão, Documentário Criativo, HDV, 7 min., produção: Docnomads

2011 - Wakasa, Documentário Criativo, HD, 51 min., produção: CRIM

2006 - Sombras do Passado, Documentário Criativo, HDV, 60 min., produção: Universidade
 Lusófona

2005 - Tudo Vai Acabando, Documentário Criativo, MiniDV, 28 min., produção: Universidade Lusófona

FESTIVAIS / COMPETIÇÕES / MOSTRAS

2017 - 11th Punto de Vista International Documentary Film Festival of Navarra (Espanha) 14º Indielisboa - Festival Internacional de Cinema Independente (Portugal) Cinema Trindade (Portugal)
 25º Curtas Vila do Conde – Festival Internacional de Cinema (Portugal) Vistacurta 2017 (Portugal)

2016 - XVI Encontros de Cinema de Viana (Portugal) 64th Trento Film Festival (Italia) Urania National Film House (Hungria) 1º Guimarães Cinema e Som (Portugal) FEST – New Directors, New Films Festival (Portugal);

2015 - 19th Jihlava International Documentary Film Festival (Republica Checa) 2º Curt´ Arruda Festival de Cinema de Arruda dos Vinhos (Portugal) 12º Indielisboa - Festival Internacional de Cinema Independente (Portugal) Centro Cultural da Malaposta (Portugal) Cinemateca Portuguesa (Portugal) Doclisboa 2015 - Festival Internacional de Documentário (Portugal)

2013 - Panazorean - Festival Internacional de Cinema (Portugal)

2011 - 8º Indielisboa - Festival Internacional de Cinema Independente (Portugal)

2010 - XI Festival Premis Tirant (Espanha)

2009 - National Museum of the American Indian (EUA) 2006 - Doclisboa

2006 - Festival Internacional de Documentário (Portugal) 8th Panorama of Independent Film Makers (Grécia)

2005 - Encontros de Cinema de Viana (Portugal) 13º Curtas Vila do Conde - Festival Internacional de Cinema (Portugal) Panorama 2005 (Portugal) Made in Deca (Portugal) Caminhos do Cinema Português (Portugal) I Lusovideografia festival (Brasil)

 PRÉMIOS / BOLSAS/ APOIOS

2016 - Bolsa da Acadamy of Drama and Film Arts - Erasmus Mundus (Hungria) Menção Honrosa nos XVI Encontros de Cinema de Viana para “Para Lá do Marão” (Portugal)

2015 - Prémio Sofia da Academia Portuguesa de Cinema para “Para Lá do Marão” (Portugal) Prémio Árvore da Vida – Menção Honrosa no 12º Indielisboa para “Para Lá do Marão” (Portugal)

2014 - Bolsa Docnomads Erasmus Mundus (União Europeia)

2013 - Menção Honrosa – Melhor Filme Português no Festival Panazorean para “Wakasa” (Portugal)

 2011 - Melhor Imagem (Takashi Sugimoto) no 8º Indielisboa para “Wakasa” (Portugal)

2010 - Apoio do ICA – Instituto do Cinema e Audiovisual a “Wakasa” (Portugal) Apoio da RTP – Radio Televisão Portuguesa a “Wakasa” (Portugal) Apoio da Japan Foundation a “Wakasa” (Japão)

2009 - Bolsa INOV ART (Portugal) Melhor Curta Metragem Documental no NMAI para “Repatriation of the Pawnee Scouts” Co-realizado com Jed Riffe (EUA)

2006 - Bolsa Leonardo Da Vinci (Portugal) Prémio Sony para a melhor primeira obra portuguesa no Doclisboa 2006 para “Sombras do Passado” (Portugal)

2005 - Menção Honrosa nos Encontros de Cinema de Viana para “Tudo Vai Acabando” (Portugal)

 RESIDÊNCIAS ARTISTICAS / ESTÁGIOS / TRABALHO

2014 - Taipei Artist Village, Taipei (Taiwan), residência artística Nomad Artist Village, Taichung (Taiwan), residência artística

2009 - Jed Riffe Fims, Berkeley (USA), estágio

2007 - Suttvuess Productions, Rome (Italy), estágio

2006 - CRIM Produções, Lisbon (Portugal), estágio / trabalho

OUTRAS EXPERIÊNCIAS DE TRABALHO

2017 - Chefe de Produção no documentário “Anoitecer” realizado por Agnes Meng, produzido por Docnomads (Portugal);

2014 - Formador “Workshop de Documentário” 435 Studios, New Taipey Ciy (Taiwan);

2010 - Operador de Som no documentário “This ain´t no Mouse Music” realizador por Chris Simmon e Maureen Gosling (EUA);

2009 - Operador de Som e Assistente de Montagem a Maureen Gosling no documentário “Good Germs, Bad Germs” realizado por Jed Riffe and Christine Chessen (USA);

2009 - Operador de Câmara e Editor de um spot comercial produzido por Jed Riffe e exibido na CBS e ABC (EUA);

2009 - Assistente de Montagem de Maureen Gosling no documentário “Smoking Fish” (USA);

2008 - Operador de Som no documentário “Mãe Fátima” realizado por Christine Reeh (Portugal);
 2007 - Operador de Som e Assistente de Montagem no documentário “Lambreta: L` Altra Faccia del Miracolo Italiano” realizado por Enrico Settimi para o Discovery Channel e Fox Channels Italy (Itália);

2006 - Editor do documentário “Á Espera da Europa” realizado por Christine Reeh (Portugal);

                                                                           ******




                                                      Teatro Ribeiro Conceição - Lamego


* Aurora Simões de Matos

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

PORTUGAL RURAL (2) - A FORNADA

TEXTO DE AURORA SIMÕES DE MATOS

IMAGENS DE ARMANDO JORGE


           (Imagens de um tempo não tão remoto assim -  cerca de três décadas, no Portugal Profundo)

                                                            A FORNADA

Ti Zefa da Pereira vai cozer o pão
a grande fornada da semana inteira
O forno que fica por cima do lume
está quase pronto, vazia a pilheira
de pinhas, chamiças, cavacos e torgas
mesmo ali juntinho, perto da lareira

Quando ganhar lastro, quando ficar quente
varre-o com vassoura feita de carqueja
arrastando a cinza ainda abrasida
à boca escaldante, mesmo para a beira

Tira um pedacinho de massa à masseira
põe-no na escudela que foi polvilhada
Trabalha brincando a bola que salta
molinha, tenrinha, e que salteada
tendida, estendida, redonda, achatada
vai na pá de ferro ao forno a cozer
coberta de carne, carne entremeada
ou então sardinha, sardinha escochada

O calor, a cinza, as brasas ajeita
para o forno aberto Ti Zefa espreita



E enquanto espera que a bôla se  coza
para engalhar a fome à merenda dos seus
revive na mente a imensa canseira
de cozer o pão da semana inteira

Arregaça a saia, arregaça as mangas
e sempre encostada à grande masseira
despeja da saca a farinha de milho
que nessa manhã lhe trouxe a moleira
e roda que roda, batendo a peneira
polvilhos de neve de alva brancura
vão formando um monte dentro da madeira
E na maciez dessa fina alvura
faz um buraquinho onde há-de caber
o sal dissolvido em água bem quente
e o peso certo do santo fermento
que não é só seu, é de toda a gente

Começa a mistura com jeito e doçura
a seguir ao que, penosa tarefa
é o amassar mexido, batido
furado, entranhado, puxado, gemido
socado, suado, sovado à mão
num dançar ritmado até à exaustão

Ajeita-se a um canto a massa já pronta
polvilha-se, benze-se, sulca-se uma cruz
e entrega-se assim nas mãos de Jesus
que o há-de fintar e fazer crescer
que é pão de outra cruz do nosso viver



Depois é no forno metê-lo e cozê-lo
durante umas horas à porta fechada
com porta de ferro, com lama vedada
e quando se tira, bem quente, cheiroso
é pô-lo na tábua 'inda a fumegar
Cinco grandes broas que bem governadas
hão-de na semana a fome matar
Só filhos são cinco - o home anda fora
mourejando a vida em terras distantes
e tem que tratar do seu pai agora
sem forças, que as forças se foram embora



As forças da vida, em cada tarefa
põe-nas com amor a boa Ti Zefa
criando seus filhos sozinha - e são tantos
no duro trabalho do monte e dos campos
a que dá inteiro o seu coração
como quando coze, no forno, seu pão


                                                            Aurora Simões de Matos

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Imagens do Portugal Profundo

     
Gabriel e Malhadinho



(Texto de Aurora Simões de Matos
Fotos de Armando Jorge)



Tão pequeno e indefeso
nasceu no monte
à sombra duma giesta em flor
amparado pelo pegureiro
com mãos calejadas só de amor

Nasceu da "Malhada"
que, balindo, toda dor
confiou sem reservas o seu filho
ao generoso pegureiro
de mãos calejadas só de amor

Um tufo de fentos e erva seca
ao lado duma torga abandonada
foi seu primeiro ninho de calor
no aconchego da primeira mamada

E quando ao fim da tarde conheceu
os caminhos que iam dar ao lar
sentiu o abraço enternecedor
que o levava ao peito
muito ao jeito
do bondoso pegureiro                                                                                       
com mãos calejadas só de amor

Cresceu o «Malhadinho»
Já sabe andar sozinho
e não precisa da ajuda de ninguém
nem mesmo do úbere de sua mãe

Mas, quando calha, dia madrugado
a vez de abrir a porta ao gado
a vez de fazer sua vigia
ao amigo pegureiro
de mãos calejadas só de amor
há sempre um olhar terno de alegria
e um balido de bom entendedor.



                                        Aurora Simões de Matos




( uso de regionalismos do Montemuro)

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Homenagem ao pastor de rebanhos - poema de Aurora Simões de Matos

                             

Ao humilde PEGUREIRO, 
romântico ex-líbris da minha infância


Dá-me teus vãos pensamentos 
sem destino, vagabundos
e dá-me o silvo dos ventos 
e a sombra dos vales profundos


Virgílio, pastor de rebanhos ( foto da Revista Visão - 2012 )


***

Cabaça transformada em cantil

***

Dá-me a água do cantil
 que trazes a tiracolo

Dá-me a bucha do bornal
e não me leves a mal
que te peça para mim
 o burel e o cotim 
                                            desse modo de vestir
com que passeias o monte
 por longos dias sem fim

Dá-me a flauta de cana 
e a música com que enfeitas
as horas mortas que deitas 
nesse chão que não te engana

Dá-me o sol e dá-me a chuva 
do tempo agreste em teu rosto
dá-me manhãs de fescura 
e trindades ao sol posto

Dá-me teus vãos pensamentos 
sem destino, vagabundos
e dá-me o silvo dos ventos 
e a sombra dos vales profundos

Dá-me o teu tempo sem fim
que o quero para mim
e se puderes, dá-me os mundos 
que trazes nos sentimentos

Dá-me tudo o que te peço 
e mesmo o que te não peço
mas ainda pra dar tens
quando vais e quando vens 
por todos esses caminhos 
de lendários carreirinhos 
que se perdem na memória
e a serra esconde em seu rosto 
e tu percorres por gosto
dessa vida re...pe...ti...da...
de gestos gastos, sem história.


                                                Aurora Simões de Matos



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Do outro lado da Paiva, a bela serra da Arada


A partir de Parada, vista sobre a serra do Montemuro, confundindo-se com a serra da Freita

 No sopé sul do Montemuro, a lindíssima aldeia de Meã, estendida à beira-Paiva


Aldeia de Meã, rodeada de verdes pinheirais, que tiraram o lugar à vegetação rasteira que, durante séculos, sustentou a "vigia" ( rebanho de cabras e ovelhas, guardadas pelo "pegureiro", em regime comunitário de partilha) 



O saudoso Ti Zé da Virgínia, exímio tocador de flauta falecido há pouco, aprendeu a tocar sozinho, 
com uma flauta de cana feita por si. Talvez nos montes da sua terra... 
Paz à sua alma!


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Cantil de cabaça, para transporte de bebidas



                                                                    Aurora Simões de Matos