terça-feira, 13 de agosto de 2013

INCÊNDIOS EM PORTUGAL


                                                                   INCÊNDIOS...
                                           O ALVOROÇO  DA NATUREZA E DAS GENTES

                                                                          


Estava lá e vi.

Vi alastrar o fumo, vi alastrar o fogo, vi alastrar o grito doloroso da terra, em ecos duma linguagem estranha, no crepitar estalido das árvores agonizantes. Das casas agonizantes. Das gentes agonizantes.

Vi alastrar o fogo. E os rostos queimados das pedras faziam lembrar máscaras de onde caíam lágrimas. De onde caíam gritos.Lágrimas secas de quem já nada sentia, tanta a dor. Gritos de alarme, de quem já nada pedia, tanta a raiva.

Vi a verdura ceder, apagando-se na intensidade da luz, entre a vida e a morte.

Vi os pinheiros ruírem do pleno gozo da força, envoltos nas sôfregas labaredas que os consumiam. Presos ainda à condição da sua verticalidade, num simbolismo que já nada dizia.

Vi pássaros aflitos fugirem dos seus cumes, soltando assobios roucos de pasmo.

Vi  flores e  frutos humildes com ar temeroso, à espera do funesto instante.

                                                              

Vi a densa e pesada muralha de calor e morte esmagar o ventre feminino da terra.

Vi o medo e a revolta das gentes, retinas encharcadas no alvoroço duma guerra perdida, pálpebras pesadas de tanta insónia. Vi a vida ceder à morte que lhe esmagava o sentido, a razão e a dignidade.

E senti o desgosto turvo da impotência. Da penosa impotência, clamando por um porquê.

                                                                        

Que sentimentos albergará o coração da Natureza, que sugere a vingança dos sentidos sobre a beleza?

Que lições farão sentido, quando se realizam pelo extremo fatal da vida?

Que mensagem esta, indecifrável, cruel e injusta? Porquê tantos inocentes a serem imolados num campo de batalha sem armas que lhes acudam, sem fugas que lhes valham?

Não há pretexto humano que justifique os contornos de tanta dor!

                                                                    

Vi tudo à mercê do nada. E os meus olhos, em coro com o clamor das retinas encharcadas no alvoroço das gentes e com o silêncio pesado das fragas mascaradas de negro, choraram lágrimas de pasmo. Lágrimas imerecidas. Lágrimas secas de quem já nada sentia, tanta a dor.

Vi tudo à mercê do nada. E, na palma da minha mão fechada com muita força, quis encerrar um tempo de angústia de onde me escorreram palavras sem tino.

Que Deus me perdoe!



Aurora Simões de Matos

                                                                       

5 comentários:

Meg disse...

Realmente muito triste.

Maria do Amparo Bondoso disse...

Um texto e imagens que ilustram bem o sofrimento causado por este mar de chamas. Parabéns.

raiz de xisto disse...

Obrigada, Meg, pelo comentário que confirma a impotência de quem assiste a tanta maldade!!!

raiz de xisto disse...

O meu abraço, Maria do Amparo Bondoso, pela presença e pelas palavras!!!

raiz de xisto disse...
Este comentário foi removido pelo autor.