terça-feira, 2 de maio de 2017

Poemas de Aurora Simões de Matos - "DOMÍNIO" e "RESISTÊNCIA"


~~~ DOMÍNIO  ~~~

( do livro O amor é sempre inocente - 2017)
em 2ª edição




«Trago fechadas na minha mão pálida e dominante as rédeas luzentes dum corcel gigante»

Por meu bem e por meu mal sou o farol da sorte que me
 alumia os caminhos. Plena de vastidão na coerência do sonho.
 Fascínio quase navio de guerra em que a loucura armada impõe
 distância. Perscruto o ar o vento e os labirintos da cidade. Onde
 se escondem forças desconhecidas que habitam mundos sem
rosto. Gesto secreto em busca do que se perdeu no espaço oculto
 da noite. Apenas por saber que o incauto é mais sujeito à voz cerrada 
das brumas. Palmo a palmo invento o sentido de novas rotas que me
 animam a emoção.
Invejo o fragor do mar perante a rocha que lhe detém os passos.E o so

l que sucumbe à languidez da noite.Por meu bem e por meu mal desenho
 o destino dos passos com que vou. E também o verso em que me deito.





                                       ~~~~     RESISTÊNCIA  ~~~~

Sabemos que em tempos de chumbo não se limpam
 pólvoras. Nem memórias. Há guerras e guerras. E gritos
 de aviso febril ardendo de insónia. Que os sonhos se vão
 para morrer. E renascerem ali ao lado. O mundo desfigurado
 nunca gera correntes de esperança. Na madrugada acordaram
 chuvas insanas e ventanias que arrancaram ao arvoredo as 
folhas mais viçosas Castigo absurdo aos renascidos. Eu amo a 
tempestade em rajadas que fustigam a pele. E o vulcão em fogo
 incandescendo o rio. Amo o trovão riscando o céu depois do
 ribombar sinistro. E a vaga alterosa que tudo arrasta no fragor. 
Porque sempre que o medo me gela as veias a carne me endurece
 e dobra a resistência.






                                                                               Aurora Simões de Matos

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