~~~ DOMÍNIO ~~~
( do livro O amor é sempre inocente - 2017)
em 2ª edição
«Trago fechadas na minha mão pálida e dominante as rédeas luzentes dum corcel gigante»
Por meu bem e por meu mal sou o farol da sorte que me
alumia os caminhos. Plena de vastidão na coerência do sonho.
Fascínio quase navio de guerra em que a loucura armada impõe
distância. Perscruto o ar o vento e os labirintos da cidade. Onde
se escondem forças desconhecidas que habitam mundos sem
rosto. Gesto secreto em busca do que se perdeu no espaço oculto
da noite. Apenas por saber que o incauto é mais sujeito à voz cerrada
das brumas. Palmo a palmo invento o sentido de novas rotas que me
animam a emoção.
Invejo o fragor do mar perante a rocha que lhe detém os passos.E o so
l que sucumbe à languidez da noite.Por meu bem e por meu mal desenho
o destino dos passos com que vou. E também o verso em que me deito.
~~~~ RESISTÊNCIA ~~~~
Sabemos que em tempos de chumbo não se limpam
pólvoras. Nem memórias. Há guerras e guerras. E gritos
de aviso febril ardendo de insónia. Que os sonhos se vão
para morrer. E renascerem ali ao lado. O mundo desfigurado
nunca gera correntes de esperança. Na madrugada acordaram
chuvas insanas e ventanias que arrancaram ao arvoredo as
folhas mais viçosas Castigo absurdo aos renascidos. Eu amo a
tempestade em rajadas que fustigam a pele. E o vulcão em fogo
incandescendo o rio. Amo o trovão riscando o céu depois do
ribombar sinistro. E a vaga alterosa que tudo arrasta no fragor.
Porque sempre que o medo me gela as veias a carne me endurece
e dobra a resistência.
Aurora Simões de Matos
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