terça-feira, 31 de outubro de 2017

Homenagem ao pastor de rebanhos - poema de Aurora Simões de Matos

                             

Ao humilde PEGUREIRO, 
romântico ex-líbris da minha infância


Dá-me teus vãos pensamentos 
sem destino, vagabundos
e dá-me o silvo dos ventos 
e a sombra dos vales profundos


Virgílio, pastor de rebanhos ( foto da Revista Visão - 2012 )


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Cabaça transformada em cantil

***

Dá-me a água do cantil
 que trazes a tiracolo

Dá-me a bucha do bornal
e não me leves a mal
que te peça para mim
 o burel e o cotim 
                                            desse modo de vestir
com que passeias o monte
 por longos dias sem fim

Dá-me a flauta de cana 
e a música com que enfeitas
as horas mortas que deitas 
nesse chão que não te engana

Dá-me o sol e dá-me a chuva 
do tempo agreste em teu rosto
dá-me manhãs de fescura 
e trindades ao sol posto

Dá-me teus vãos pensamentos 
sem destino, vagabundos
e dá-me o silvo dos ventos 
e a sombra dos vales profundos

Dá-me o teu tempo sem fim
que o quero para mim
e se puderes, dá-me os mundos 
que trazes nos sentimentos

Dá-me tudo o que te peço 
e mesmo o que te não peço
mas ainda pra dar tens
quando vais e quando vens 
por todos esses caminhos 
de lendários carreirinhos 
que se perdem na memória
e a serra esconde em seu rosto 
e tu percorres por gosto
dessa vida re...pe...ti...da...
de gestos gastos, sem história.


                                                Aurora Simões de Matos



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Do outro lado da Paiva, a bela serra da Arada


A partir de Parada, vista sobre a serra do Montemuro, confundindo-se com a serra da Freita

 No sopé sul do Montemuro, a lindíssima aldeia de Meã, estendida à beira-Paiva


Aldeia de Meã, rodeada de verdes pinheirais, que tiraram o lugar à vegetação rasteira que, durante séculos, sustentou a "vigia" ( rebanho de cabras e ovelhas, guardadas pelo "pegureiro", em regime comunitário de partilha) 



O saudoso Ti Zé da Virgínia, exímio tocador de flauta falecido há pouco, aprendeu a tocar sozinho, 
com uma flauta de cana feita por si. Talvez nos montes da sua terra... 
Paz à sua alma!


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Cantil de cabaça, para transporte de bebidas



                                                                    Aurora Simões de Matos

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