segunda-feira, 14 de agosto de 2017

" A Escola do Montemuro e beira-Paiva: meio século de desafios, conquistas e perdas"


É este o título do novo livro que acabo de escrever e que entrará na minha Editora, nos próximos dias.
Da sua edição, oferecerei uma boa parte aos habitantes de Meã, meu torrão natal, e à Junta de Freguesia de Parada de Ester.
Prenda minha, como recordação de tempos inesquecíveis na minha aldeia, ainda na escola que funcionava em espaço arrendado a um particular. Onde havia disciplina e saber, respeito e esforço. Onde os castigos corporais eram prática comum a todo o país, e onde se trabalhava de sol a sol, na busca da tão almejada 4ª classe, o limite da escolaridade para a grande maioria da população portuguesa.


Quando, na década de 1960, aqui leccionei como primeira professora diplomada, para mais filha da terra, a escola que me tinha como única titular era frequentada por mais de sessenta alunos. Isso mesmo: mais de sessenta alunos, para uma única professora.

Hoje, toda a região vive o drama da falta de crianças. A juntar-se às demais crises, de onde sobressai a económica e políticas desajustadas da nossa realidade, instalou-se a grave crise demográfica.
Não nascem crianças, os jovens e os adultos mais capazes partem, os idosos passaram a ser a força sem força de muitas das nossas aldeias, praticamente abandonadas pela serra e pelo vale.

Os poucos meninos, que por aqui vivem ao derredor ainda, perderam o direito a poderem crescer junto dos seus. E partem diariamente numa longa viagem diária até ao Centro Escolar mais próximo, porque a escola da sua terra encerrou portas. E foram tantas as escolas que fecharam!


À Escola do Ensino Básico de Para da Ester, afluem diariamente alunos de várias aldeias das duas margens do rio Paiva. Vêm em carrinhas da Câmara disponibilizadas para o efeito. Uma situação que, dizem-nos, é a única possível, na conjuntura dos factos.

E assim continuamos a ver crescer crianças que o não são, porque lhes roubaram o tempo, o espaço e o direito de o serem, em plenitude. Lacunas dramáticas que um dia, inevitavelmente, hão-de reflectir-se numa sociedade adulta em convulsão.

* A ESCOLA NOVA da aldeia de Meã, construída na primeira metade da década de 1960, fechada por falta de alunos, e onde funciona agora a Associação Cultural, Desportiva e Acção Social " Os Sete Casais de Meã"

Edifícios onde, até há pouco mais de duas décadas, se ouvia o alegre bulício da criançada em busca do saber, são agora lugares-fantasma, no silêncio de espaços que já não sabem sorrir.

A fugir a toda esta dramática situação, os pais que actualmente constituem família, ao contrário do que se passava no século XX, saem agora para as grandes cidades de Portugal e estrangeiro, por lá criando os seus filhos. E ninguém tem o direito de os julgar, por terem "fugido" de uma zona que a isso os obrigou.

A aldeia de Meã, totalmente vazia de crianças hoje, delas mata saudades, quando os pais as trazem em tempo de férias no Verão.

Aqui, no Montemuro e beira-Paiva, a antiga trilogia « Deus, Pátria, Família» do Estado Novo de Salazar, deu lugar à moderna trilogia « Austeridade, Poupança, Conformismo» do Estado Democrático do Possível. A filosofia que rebentou com toda a estrutura escolar do Montemuro.




* A ESCOLA ANTIGA DE PARADA DE ESTER, onde fiz a minha primeira classe, e que há muito fechou portas à criançada. Aqui funciona agora a sede do " Clube de Caça e Pesca da Encosta do Montemuro e Paiva".


* O edifício onde agora funciona a Escola do Ensino Básico e o Jardim de Infância de Parada situa-se no espaço do Largo Nossa Senhora do Rosário, nas instalações do Grupo Desportivo, em lugar de mais fácil acesso.

* Parque Infantil da aldeia de Meã, construído no princípio da grande crise e que, verdadeiramente, nunca se encheria de crianças

* Mais um lugar-fantasma, onde o abandono levanta inquietações


* O Jardim de Infância de Meã, onde as crianças já não brincam

* Primeira escola masculina de Vila Seca, que funcionou em casa particular, desde o início do século XX


* Escola do Plano dos Centenários, construída em Vila Seca na década de 1950, e hoje transformada em "Centro de Convívio"



* Na Escola de Picão, onde já funcionaram várias turmas dos dois sexos, ainda se lecciona, embora apenas com uma turma. Sujeita a acabar, pela falta de crianças que façam o número exigido por lei.


( Fotos de Carlos Batalha , Artur Marado e Mauro Granja)

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