domingo, 29 de julho de 2012

TRIBUTO A LAMEGO



TRIBUTO A LAMEGO
A minha segunda Pátria







Aliança de vida com selos de amor

Conheço-lhe o sangue. Provei-o já há muito
no suor que escorria de meu rosto
sabor antigo que escorre de seus ramos
É assim que me chega
a energia da seiva que procuro
onde as raízes entrançam sentimentos

Conheço-lhe as raízes. De imaginar seus frutos
corre meu sangue qual rio de amor
corpo sem margens qual rio de dor
por sítios onde o retorno
faz o sentido dos passos que dei
por todos os passos

Conheço-lhe os caminhos. De tanto os cruzar
sei dos contornos e dos seus limites
distingo-lhes a borda, o leito e o caudal
embora nunca saiba como pronunciá-los

Conheço-lhe os gostos. E de tanto provar
aromas e sabores, texturas e as cores
do pranto solto e aberto gargalhar                          
vestígios no interior deste silêncio
que se cumpriu pelo fulgor do tempo
de ser apenas e só o meu destino
é que por sorte e por ela vivo

Conheço-lhe a voz, o gesto e a imagem     
de cada esquina em cada beiral
pedra ou soleira
da aliança que com ela fiz.
Lamego, Cidade Velha sempre nova
por quem chorei, ri e vivi
por quem amei, por quem sofri
por quem afinal me fiz Mulher                                                                      

Existo nela e ela existe em mim
nas sombras confundidas pelas ruas
vozes suspensas da alta folhagem
em cada árvore que aqui plantei
um gesto último a dizer adeus
e um sorriso esquecido que regressa                                       

Por ela, "Cidade Verde", é que eu existo
de esperança cor de fé
e é nela que me deito cansada das palavras
Depois, se cada rosto que em minha mão tocou
disser ainda sem falar meu nome
apenas na surpresa ou num esboço
serão decerto então desta Aliança
selos de amor
gotas de Vida que verti no chão


Aurora Simões de Matos











 
 
Leitura deste poema no Salão Nobre da Câmara Municipal de Lamego
(2007)





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