sábado, 25 de agosto de 2012

ERICEIRA

FÉRIAS DE VERÃO
II PARTE

Valeu a pena. Vale sempre a pena regressar à Ericeira. Assim tenho feito nos meus Verões dos últimos quinze anos. Como se estes dias fizessem já parte de uma rotina anual que não me apetece, por nada, alterar. É certo que aqui faço uma espécie de sede dos meus passeios turísticos pelo litoral, com algumas incursões por um interior mais a sul e mesmo ao país vizinho. Mas o essencial das férias está aqui. Por muitas razões, muito em especial pelas companhias de que aqui e a partir daqui desfruto: a Minda e o Carlos, a Maria João, o Mário e o Miguel, o Duarte, a Leonor e a Inês. Gente do meu sangue de quem gosto muito. Razões de sobra para que estes dias me saibam sempre a pouco.

Em toda a história da Ericeira, o mar está sempre presente:
  • Na paisagem que maior força dá a uma envolvência que lhe empresta o ar de uma das vilas litorais mais pitorescas.



  • No passado desta terra de pescadores que, virada para as águas, no seu seio procura e encontra o sustento. Mas também de destemidos marinheiros, dos mais corajosos que, na árdua tarefa dos descobrimentos marítimos, souberam impor uma bravura que os tornou ímpares. E nas carreiras comerciais de há vários séculos atrás, quer para o Oriente, quer para o Brasil, onde o ericeirense dava cartas no saber e na experiência da arte de marear.
  • No desenvolvimento árduo do quotidiano de uma população que, a pulso, tem sabido conquistar o seu lugar, à custa de uma economia alicerçada à volta do seu porto. Primeiro, porto comercial, depois porto de pesca até aos nossos dias.




  • Nos areais das suas praias acolhedoras tão procuradas, ano após ano, por banhistas fidelizados que aqui encontram o bem-estar que procuram, respondendo a apelos afectivos que proporcionam ao visitante anónimo repetidos encontros com muitas figuras mediáticas do nosso panorama político e televisivo.



  • Nas tradições religiosas que os seus perigos despertam e aprofundam, em sentimentos de súplica ou de gratidão, que têm o seu ponto mais alto nas Festas em Honra de Nossa Senhora da Boa Viagem, padroeira dos pescadores. Espectacular manifestação de fé, em noite de procissão no mar. Procissão das Velas, aberta por barco especial em que segue a Virgem do Mar, acompanhada pelas autoridades eclesiásticas e seguida de barcos engalanados, carregados de penitentes cumprindo promessas, que emprestam ao cortejo a magia que sempre me comove até às lágrimas.




  • Num dos momentos históricos que toda a gente aqui conhece e relembra. O dia em que o rei D. Manuel II, a rainha-mãe D. Amélia e sua sogra D. Maria Pia, acabada de ser implantada a República, daqui zarparam rumo a Gibraltar e depois para o exílio em Inglaterra. Todas as operações seguidas pelo povo que se apinhava no paredão junto à praia, impressionado pela situação e principalmente pela imponência da rainha. Sempre em respeitoso silêncio. Sempre em respeitosa discreção. Sempre em respeitosa lealdade.
  • No regresso de D. Amélia, já com 80 anos, quando Salazar a autorizou a voltar a Portugal. «Fez questão de vir à Ericeira e foi olhar o mar do alto do paredão.» Apesar da situação política ter mudado e de reis e rainhas fazerem já parte do passado, foi recebida com o mesmo respeito do dia do seu embarque, muitos anos antes, tendo chegado a juntar-se povo para o beija-mão tradicional. Ainda hoje dura a estima dos pescadores pela rainha.





  • Na vinda de muitos refugiados de guerra que aqui se alojaram, livrando-se da crueldade do gigante opressor, durante a II Guerra Mundial.



  

  • Na prática de desportos marítimos, tais como o parapente, a pesca desportiva ou o surf, desporto radical tão em voga nos tempos actuais e que, pelas características das suas ondas e dos seus ventos, aqui traz competições internacionais, que fazem da Ericeira uma referência mundial nesse campo.




Situa-se a Ericeira a 50 quilómetros de Lisboa, 25 quilómetros de Sintra e 10 quilómetros de Mafra. O seu porto de pesca, a 23 milhas marítimas a norte de Cascais e 24 milhas a sul de Peniche.
Como atrás foi referido, o mar é o cúmplice predilecto da vila maravilhosa e, apesar dos ventos que a caracterizam, as areias brancas das suas praias, abundantemente iodadas, fazem jus à qualidade e à quantidade de turistas que a procuram.
É certo que o Casino da Ericeira, tão famoso por ser, nos princípios do século passado, lugar de encontro entre as elites urbanas desta vasta região e mesmo de Espanha, fechou há muito, em 1927. O Casino do Estoril, acabado de inaugurar, ditou-lhe o agonizar das grandes festas e das grandes noites. Do rodopio de coches, charretes e automóveis pioneiros de viagens a partir da capital e arredores. Símbolos de uma sociedade em que a aristocracia convivia naturalmente com a decadência.
Hoje, as noites aqui podem ser passadas no cinema, nas festas em vários palcos ao ar livre, ou em agradáveis passeios pelas ruas e ruelas que vão todos dar ao “Jogo da Bola”, a sala de visitas mais concorrida da terra.
Por mim, gosto de apreciar a naturalidade com que a gente que aqui vive todo o ano passa o serão à porta de casa, à conversa com os vizinhos. Intimismos que me são particularmente caros.
Por tudo o que contei, um brinde à VIDA. E o desejo de poder voltar. Para o ano... à casa de praia de minha irmã Carminda.

GALERIA DE FOTOS

VERÃO DE 2012






Férias em boa companhia











A religiosidade na Ericeira
Festa de Nossa Senhora da Boa Viagem
Passadeira em areia e sal colorido, por onde passará a Procissão





No Complexo Turístico de São Sebastião, passo parte das minhas férias de Verão, há 15 anos





Visões de luxo, a partir da janela do meu quarto



Obrigada, minha irmã Minda e meu cunhado Carlitos!!!
Até para o ano!


Aurora Simões de Matos






2 comentários:

Anónimo disse...

Querida irmã
Há mais de 40 anos que estou ligada à Ericeira por laços familiares.
Aqui comprámos casa de praia, que por sinal foste tu a estrear. Lembras-te?
É aqui que, anualmente, nos reunimos, onde fazemos a nossa descarga de fígado com tanta risota. Este ano cá estivemos de novo, para assistir à procissão de Nossa Senhora da Boa Viagem. Fomos na procissão das velas até ao mar e vimos depois o majestoso desfile de barcos engalanados, iluminados e sempre a apitar pelo mar à nossa frente, até ao regresso a terra. Assistimos ao vistoso fogo de artifício aéreo e aquático. É sempre muito bonito.
Que tenhamos muita saúde, para durante mais anos aqui nos reunirmos.
Tua irmã que tem muito orgulho em ti
Carminda

raiz de xisto disse...

Os dias que,anualmente,passo na Ericeira,são do melhor que há.Companhia,boa disposição,gastronomia,passeios,visões únicas de praia e céu,amor e amizade,sentimentos de luxo,como a paisagem que se saboreia de tua casa.
Tudo em perfeita sintonia com o nosso desejo de regresso.

Grande e grato beijo para ti,querida irmã,e para o Carlos,cunhado que tanto prezo.

Aurora