terça-feira, 21 de maio de 2013

À roda do moinho

                                            POEMA

                                 À RODA DO MOINHO









Por sinuoso e íngreme carreiro,
lá vai descendo a jumentinha parda
de alforges carregada,
sacas bem cheias de milho muito loiro
na companhia do dono
o bom moleiro
que,tocando-a ao de leve, com carinho
compõe com ela um quadro de ternura
que pelos tempos há-de perdurar
bem para além do que o moinho dura,
muito depois do ribeiro secar...

Do ribeiro onde a milagrosa água
se desprende em branca cantilena
 toda mágoa
respondendo à monótona canção
da andadeira mó que bem girando
sobre a outra,sua gémea irmã,
recebe o loiro milho da moega
que lho entrega
para ser mastigado,bem moído
e aspergido já alva farinha
que a branca e paciente moleirinha
de ténues mãos e gesto muito brando
varrendo com carinho...vai juntando...

Da linda e doce e parda jumentinha
do moleiro e da branca moleirinha
de pestanas empoadas de alvas cores,
a vida inteira à roda do moinho
já velhinho,
hão-de através dos tempos escrever
poetas e cantar os trovadores
e em bucólicos quadros reviver
a arte de consagrados pintores...


              







Aurora Simões de Matos



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