O Verão Chegou
NOVAS VIDAS ROMPERAM
Mãos erguidas ao céu, sentido de vitória
no tempo prolongado em tempo de milagre.
O Verão chegou sem sequer dar por isso
como o sol que se espraia pelo dia
como a água que se espalha pela margem
como o delírio que corre pelo corpo.
O Verão cresceu de dentro para fora
e inundou de chama a terra prometida
do sangue que escaldava em febre libertada
escorreu o suor, as veias latejaram.
O olhar ficou por ele todo ele mais quente
que a luz intensa no fogo de viver
e do braseiro que ateou deslumbramentos
novas vidas romperam no desdobrar daquela.
Mãos erguidas ao céu, sentido de vitória
no tempo prolongado em tempo de milagre.
A MAGIA DO TEMPO
Entrou pela cancela de um
dia aberto
de Primavera ao longe.
Mirou-se em espelho de
água
linda de transparência.
Bebeu a luz sôfrega na
magia do tempo
enfeitado de arco-íris a
unir dois destinos.
Sonhou. Seu sonho azul de
céu.
Seu acordar de mar.
Sonhou ainda mulher pele
de menina.
Seu acordar de mar.
Construiu sentimentos e soltou-os ao vento
pela borda de um dia
aberto
de Verão tão perto.
Atreveu-se a transformar
histórias sem espaço
no espaço de uma
história.
Deu de caras com a urgência.
Inventou a sorte e fez-se
ao caminho.
Mesmo no centro da Vida,
olhou ao redor
e descobriu que os seus
mundos
eram sempre circulares.
CORPO DE LUZ
E as árvores escoando o sol quente
pelos ramos de Verão.
E os frutos maduros num convite
lábios carnudos de prazer contido.
E um corpo de luz dolente
tombando sobre a tarde.
Ouvidos alerta, os olhos num clarão.
Contornos gravados pela mão
o braço caído ao longo
da pele de fogo.
Mesmo defronte, um vulto:
um deus de pedra nu
elevando-se das águas.
Quase um sopro, quase um grito
quase gente.
Todos estes poemas,
in "Uma Palavra"
de Aurora Simões de Matos, 2001
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