quinta-feira, 11 de abril de 2013

A ALFAIATARIA

           A ALFAIATARIA
         em meados do século xx 

                         



                 

Na grande sala, impunha-se enorme mesa comprida de madeira de castanho, onde se estendiam e cortavam os tecidos e onde se amontoavam, a um dos topos, panos de vários padrões, grossuras e texturas. Mas também réguas, moldes, paus de giz envernizado, almofadas com agulhas e alfinetes, caixas com carrinhos de linha (de máquina e de alinhavo), botões, molas e colchetes,tesouras de vários tamanhos, papel vegetal, chumaços, forros e entretelas.E o ferro de engomar, a brasas.




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Os figurinos de Paris ocupavam lugar de destaque, na mesinha a um canto,  ladeada por algumas cadeiras e ao lado de coluna com o ramalhudo vaso da begónia.

Fazendo jus ao inventor que lhe emprestara o nome, a  máquina Singer era rainha na sala. Como rainha poderia ser uma Oliva ou uma Husqvarna. Sempre muito ocupada, com a cabeça cheia de pormenores de complicado enfiamento, apenas sujeita a ligeiro auxílio de mão na roda e pé no pedal.
De vez em quando, precisava que lhe oleassem a correia e a cabeça,  através de diversos orifícios, com a ajuda do bico afiado do pequeno oleador de folha. Só assim ficaria mais leve e solta para o trabalho exigente do dia a dia.

Enfiar uma máquina de costura não seria para qualquer um. Era preciso jeito, sensibilidade e prática. Para que a linha do carrinho espetado no cimo da cabeça e a linha enrolada à volta da lançadeira colocada em pequeno invólucro cilíndrico, no interior da mesa ao alcance da agulha, corressem com facilidade para, prendendo-se uma na outra ao longo de cada costura, dela fossem o direito e o seu avesso.

(......)

Aurora Simões de Matos

No livro CONTOS DE XISTO ---- 2012











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