terça-feira, 5 de junho de 2012

CORPO DE ÁGUA

Nasci perto do rio e do rio herdei
o corpo que não domino, porque é
feito de água. Na profundidade do
meu corpo podem descobrir-se os
corpos de meus pais e meus avós.
Eles ensinaram-me a lidar com a
harmonia e a desarmonia que supreende
cada impulso do meu conhecimento e
ajudam-me a aceitar os limites do
gesto onde começam as margens da
água e das palavras que nela sepenteiam.
Há uma explicação para tudo e, quando a
não encontro, interrogo-me no rosto deles.
Sei que preciso de vencer barreiras e é
nelas que tanto me debruço. Às vezes sou
arrastada pela corrente que brota das
entranhas onde acordam forças desconhecidas.
Encontro depois novos limites, que podem
bem ser a proximidade de outro rio.

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RIO ERMO

Meu ser é um rio ermo
com margens inacessíveis
de altas escarpas.

Há tempestades
e há remansos
e remoinhos
em minhas águas.

                            Aurora Simões de Matos

6 comentários:

Ramos disse...

No meu rio espraiado só há gostosos remansos e nunca remoinhos.
Parabéns!
Felisberto

Ramos disse...

Publiquei na minha página do facebook "Felisberto Ramos"

raiz de xisto disse...

Amigo
...que esses "gostosos remansos" sejam sempre
lugares de crescimento...e de paz.E de alegria,como mereces.É dever de cada um escolher por onde se espraiar.Boa sorte...e um abraço.

Aurora

Ramos disse...

Obrigado!

quiquinhos disse...

No rio, que incendeia imaginários que se embrulham na leveza do xisto, brota também a inspiração e a poesia.

raiz de xisto disse...

Quiquinhos
O que incendeia imaginários é sobretudo um coração lindo
como o da vossa (minha também)Quicas.Na leveza do xisto...numa gota de orvalho,na gargalhada de metal...na sala de aulas por onde correm as PALAVRAS!Meus lindos,dai-lhe a ela um beijo por mim.E sempre muitos mimos.Inspiração,poesia e muitos sonhos...
Tia Aurora