domingo, 18 de novembro de 2012


Capela de madeira




Plantado na colina, junto à eira,
erguia-se o canastro de madeira,
belo, robusto, altivo, sobranceiro
na sua postura e autencidade
herdadas do tempo e na rusticidade
da terra-mãe
que lhe oferecera a força e o poder
arrancados à verdade do monte:
o xisto de seus pés e sua fronte,
o tronco de árvore que lhe dera corpo,
a lousa negra que lhe cobria o ser,
o ventre feito de vísceras douradas
na aridez do sol, na aridez do vento,
que corria, livre, à vontade do tempo
e lhe atravessava os ossos, lhe retesava as veias
na generosa intenção de oferecer
a dádiva do amadurecer
o pão, fruto de meses na canseira
do lavrador, até chegar à eira.



Ainda hoje, sereno monumento
à ruralidade, que é de todo o tempo,
podemos vê-lo, na colina plantado,
mesmo que das entranhas despojado,
belo, humilde, saudoso, junto à eira,
lembrando-nos capela de madeira.


Aurora Simões de Matos








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